domingo, 28 de agosto de 2011

LORDE COCHRANE, PRIMEIRO ALMIRANTE DO BRASIL, E A GUERRA DE INDEPENDÊNCIA

Lorde Thomas John Cochrane, Conde de Dundonald, Marquês do Maranhão, terá sempre garantido seu lugar de honra na História do Brasil, com a Guerra de Independência e, em particular, com a formação da esquadra Brasileira. Entre a Proclamação da Independência e a adesão por todas as províncias, passou-se apenas um ano. Tal façanha se deve em grande parte a este comandante de origem escocesa.
Terminada a Guerra do Pacífico, entre a colônia e a metrópole espanhola, e estabelecida a Independência do Chile, encontrava-se o escocês Lorde Thomas John Cochrane com grande prestígio no posto de primeiro Almirante da esquadra daquele país. Tendo sido realizada a Paz, o Ministro José Bonifácio visualizou a possibilidade de catalisar este contingente especializado nos ofícios do mar, com liderança de Cochrane, para a formação de uma esquadra, que garantisse o litoral do recém formado Império Brasileiro. Assim, com a aquiescência do Imperador, e por intermédio do Cônsul do Império do Brasil em Buenos Aires, Antônio Manuel Correa da Câmara, José Bonifácio na qualidade de Ministro do Interior e das Relações Exteriores do Império, convidou o Almirante Cochrane a deixar seu posto no Chile e vir para o Brasil a fim de formar e liderar uma Marinha de Guerra para “atacar a força parlamentar portuguesa”.
Tentado pela proposta de manter seus vencimentos e posto iguais ao que ocupava no Chile e ainda ser merecedor de todas as presas de guerra que pudessem ser capturada (uma incalculável quantidade de navios portugueses, bem como suas cargas e todo o produto de alfândega ou qualquer outra propriedade portuguesa) o Lorde escocês assumiu seu posto de Primeiro Almirante do Brasil a 21 de março de 1823 e partiu do Rio de Janeiro a três de abril fazendo-se de vela para a Bahia, onde se encontravam o maior efetivos de tropas portuguesas com o objetivo de manter a colônia sob dominação. Inicialmente contou com apenas quatro navios de guerra; o Pedro Primeiro, o Piranga, o Maria da Gloria e o Liberal; outros dois, o Guarani e o Real, sem condições de combate, seguiram destinados para brulotes[1]. Posteriormente o Nitherói e o Paraguaçu, se juntaram a esquadra.
 Fragata Niterói
Cumprindo o que estabelecia a Proclamação Imperial de 29 de março (de 1823), a partir de primeiro de maio, impôs o bloqueio da Bahia, impedindo que chegasse qualquer suprimento para as tropas portuguesas. A quatro de maio a Esquadra brasileira avistou e avançou diretamente sobre a Força portuguesa (treze navios), formada em duas colunas. Cochrane, percebendo um claro entre os navios da esquadra, resolveu cortar sozinho com a nao capitânia a linha por este claro e passou fazendo fogo às fragatas da esquadra lusitana. Antes que a vanguarda pudesse manobrar para socorrer os quatro navios da retaguarda, deu volta e saiu da área de combate. Por manobras habilidosas como esta, compensava-se a inferioridade numérica do Primeiro Almirante do Brasil.
Nao capitânia corta a esquadra portuguesa
No morro de São Paulo estacionou sua frota para o aprestamento dos brulotes, mantendo ataques isolados apenas com o navio Pedro Primeiro. Este era dotado excelentes qualidades veleiras, mas pela escassez de marinheiros experientes estava com sua tripulação reduzida. Sendo assim, preferiu, o Lorde, transferir os marinheiros estrangeiros (únicos com experiência de mar) das outras embarcações para esta, completando sua tripulação e obtendo assim maior vantagem com um único navio. De fato, este único navio foi capaz, de sob o comando de Cochrane, levar ameça verdadeira ao Almirante português na Bahia, pois os rápidos encontros com o Pedro Primeiro sempre levavam a perdas e apresamento de navios com tropa. Decido a pressionar às tropas portuguesas que já deliberavam em abandonar a província, Lorde Cochrane fez o que os portugueses achavam impossível; na noite escura do dia 12 de junho, entrou na baía de salvador, onde se encontrava ancorada a frota portuguesa, passou por entre os navios inimigos sem ser molestado e aproximando-se perigosamente dos mesmos, efetuou seu reconhecimento para o uso dos brulotes, que já se encontravam quase prontos, saindo sem qualquer problema. A entrada na baía era, em dia claro, uma tarefa perigosa, para a qual os portugueses dependiam da utilização de práticos; efetuar tal faça numa noite escura, quando os navios da esquadra estavam imobilizados para não se perderem encalhandos nos bancos de areia ou chocando-se contra rochedos em águas rasas era algo impensável e certamente indicava o perigo iminente de ter o Almirante português sua esquadra totalmente destruída no interior da baía, sem a menor possibilidade de defesa.
Esta incursão noturna, somado a notícia de que os brulotes estavam prontos levou tal terror aos portugueses que estes decidiram abandonar a Bahia o mais breve possível. A partir de primeiro de julho iniciou-se a evacuação das forças inimigas, acompanhadas de sessenta a setenta navios mercantes que transportavam as tropas, bem como os demais portugueses que desejavam partir em segurança. Como a evacuação da capitania era mais importante para o cumprimento de sua missão, Lorde Cochrane permitiu que os navios passassem sem serem molestados.  Após a passagem do último navio do comboio, iniciou-se a caçada.
A perseguição à frota portuguesa que seguia em direção a Portugal rendeu o apresamento de muitas dezenas de navios e cerca de dois terços das tropas inimigas que fugiam da Bahia. A abordagem era feita sempre nos navios mais distantes dos vasos de guerra; após a abordagem, o mastro principal era inutilizado para impedi-los de atravessar o Atlântico e forçarem a volta para a Bahia, onde eram presos. Daí conduzidos para o Rio de Janeiro.
Nao capitânia Pedro Primeiro
Abandonando a perseguição aos navios Portugueses, Lorde Cochrane partiu com o Pedro Primeiro para o Maranhão a fim de dar cabo da resistência portuguesa naquela província. Ao entrar no rio Maranhão no dia 26 de julho, ciente pelos papéis apreendidos nos navios apresados, que os portugueses esperavam reforços, desfraldou o pavilhão luso para fazer crer que era a capitânia de uma esquadra portuguesa. As autoridades, enganadas por este ardil, enviaram o brigue de guerra Dom Miguel com ofícios de congratulações nas mãos do capitão Garção. Ao ser desenganado da situação e encontrarndo-se dentro de uma embarcação brasileira, o capitão foi feito prisioneiro e foi-lhe informado que se tratava da capitania de uma grande frota brasileira que se aproximava para subjugar o Maranhão, assim como fora feito com a Bahia. Como os acontecimentos da Bahia já corriam, não foi difícil fazer crer que a estória era verdadeira. Assim, como parte do plano de Cochrane, foi oferecida a liberdade ao tal capitão, desde que conduzisse suas cartas para o Governador e para a Junta, as quais eram carregadas da mesma estória e com a exigência de reconhecer o Império Brasileiro. Como resposta Cochrane recebeu no dia seguinte a capitulação do Governo, que por ser condicional não fora aceita. No dia 27 entrou com a capitânia até a frente do forte e ancorou. Nesta situação, a Junta de Governo, acompanhada pelo Bispo entrou a bordo e deram toda a sua adesão ao Império. No dia seguinte proclamou-se na província a Independência do Brasil.
Esquadra Imperial
Pacificada a capital da província, as tropas portuguesas foram embarcadas a primeiro de agosto; nesta mesma data os habitantes de Alcântara fizeram a declaração de adersão ao Império. Uma semana depois foi eleito um Governo Provisório.
No dia oito de agosto, Lorde Cochrane redigiu ofício ao Ministro da Marinha dando conta de seus serviços no Maranhão e acrescentando suas intenções com relação ao Pará:
“Tripulei e guarneci o brigue de guerra, e mandei-o ao Pará, para intimar aquela cidade que se renda – oferecendo ao inimigo os mesmos termos que se lhe concederam aqui. A bela fragata nova, ultimamente lançada ao Mar no Pará, ainda não deu vela para Portugal, e estou na esperança de na próxima participação que tenha a honra de transmitir ou levar a V. Exª comunicar a nova agradável de Sua Majestade Imperial não ter já inimigo, quer no mar quer na terra, entre as extremidades do seu Império.”
O mencionar da “bela fragata nova” não era sem motivo, Cochrane dera ordens específicas a o Capitão-tenente Grenfell para capturar a fragata, como valiosa presa de guerra, a qual deveria batizar de Imperatriz e conduzi-la ao Rio de Janeiro.
O Capitão-tenente executou no Pará o plano de Lorde Cochrane que expediu o brigue Maranhão com carta dirigida à Junta governativa, assinada por ele, porém devendo ser datada no dia da chegada ao Pará. Desta maneira a Junta seria informada da presença da esquadra brasileira que aguardava fora da barra a decisão de aderir a Independência, sob a ameaça de um bombardeio caso fosse negado. Reproduzia-se, assim, o mesmo ardil aplicado no Maranhão.
            Sem que houvesse tempo de averiguar a existência em águas paraenses da referida esquadra e já se preparando para fundear no porto o brigue de guerra de Grenfell, no dia 11 de agosto às dez horas da noite, foi realizada uma reunião contando com o Governador das Armas, o Senado da Câmara, autoridades civis, eclesiásticas e militares para se decidir os procedimentos a serem tomados. A notícia da chegada da Esquadra Brasileira causou um grande alvoroço popular. A euforia popular dos simpatizantes do novo regime forçou a Junta uma decisão pela adesão ao Imperador do Brasil, sendo voto vencido o Governador das Armas e alguns poucos partidários deste. Desta maneira, no dia 15 de agosto de 1823 no Palácio do Governo, foi proclamada a Independência do Brasil no Pará. Sendo realizado o juramento e lavrado uma ata.
            Voltando ao Maranhão, onde permaneceu Lorde Cochrane, a 20 de agosto as tropas portuguesas que se encontravam na província foram embarcadas para Lisboa. Formou-se aí um Governo Provisório aderente ao Império do Brasil. Um mês depois partiu para o Rio de Janeiro, aonde chegou a 9 de novembro e foi recebido a bordo pelo próprio Imperador.

 Lorde Cochrane
            Neste curto espaço de tempo, muita coisa havia mudado no Ministério de D. Pedro. José Bonifácio havia sido demitido e em seu lugar encontravam-se ministros reacionários, pouco satisfeitos com os prejuízos infringidos aos portugueses. Por isso o Tribunal de Presas passou a negar a Cochrane e à esquadra os seus direitos de presa (cerca de 140 navios, bem como as rendas das alfândegas e demais bens seqüestrados aos portugueses).
            Mesmo insatisfeito com o rumo das negociações, vendo seus direitos que foram ofertados pelo próprio Imperador serem negados por um ministério lusófilo, ainda aceitou nova missão em nome do Império Brasileiro. A questão agora era a revolução republicana em Pernambuco, a Confederação do Equador.
            Em dois de agosto de 1824, partiu novamente comandando a esquadra brasileira em direção a Pernambuco. Seu primeiro ponto de parada foi em Jurugua, Alagoas, onde no dia 16 desembarcou uma tropa de 1200 homens, comandadas pelo General Lima, que seguiria por terra para debelar a rebelião.
            A 18 de agosto chegou a Pernambuco, onde o presidente revolucionário, Manuel de Carvalho Paes de Andrade comandava uma Confederação apoiada em larga escala pelas províncias da Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e Ceará.
            Paes de Andrade havia estacionado na ilha de Taparica um navio para, em caso de necessidade, poder fugir, contudo ao ter conhecimento do fato Cochrane apreendeu a embarcação. Vendo a impossibilidade de seguir com a revolução, tendo o General Lima em seu encalço e o porto bloqueado pela esquadra de Cochrane, preferiu partir para negociação com este, oferecendo-lhe 400 contos de réis para que deixasse o serviço do Império do Brasil e aderisse a Confederação do Equador. Certamente a oferta foi negada e ameaçou o Lorde bombardear a cidade.
            A 11 de setembro, o General Lima entrou na cidade e Paes de Andrade se refugiou nos subúrbios. Neste período chegou a fragata Piranga trazendo um reforço de oitocentos homens. O presidente republicano então abandonou a luta e fugiu para o interior.
            Resolvida a questão de Pernambuco e vendo as províncias do norte em estado de ebulição, Cochrane decidiu partir com o Pedro Primeiro e a Piranga para o Rio Grande do Norte, dando vela a 10 de outubro.
            A presença dos navios no Rio Grande do Norte foi o suficiente para volta a calma, partindo então para o Ceará onde o presidente revolucionário Araripe ameaçava separar-se do Império. Com a chegada dos navios no Ceará a 18 de outubro, o presidente revolucionário preferiu fugir para o interior, sendo assassinado por esta ocasião. Restando o Norte, partiu para o Maranhão a quatro de novembro, onde chegou a nove.
            No Maranhão encontrou uma completa confusão, o governo despótico do presidente Miguel Bruce fora deposto e havia um Governo Provisório. Dois partidos, brasileiro e português, se digladiaram, ambos jurando defender o Império Brasileiro e ambos acusando o oposto de ser republicano.
            A fim de resolver a situação político-militar, o próprio Almirante Cochrane assumiu o comando das Armas e da polícia. Como todo problema da província parecia girar em torno do despotismo de Bruce, o Almirante decidiu suspender o presidente e enviá-lo para o Rio de Janeiro, deixando Manuel Teles da Silva Lobo como presidente interino, pois este era totalmente desligado das facções familiares do Maranhão.
            Voltando o Pará a apresentar distúrbio e estando a vida do presidente da província em perigo, Cochrane expediu a fragata Atalanta sob os comandos dos tenentes Clarence e Reed.
            Apaziguado os problemas no norte do Império, o Almirante transferiu sua bandeira para a fragata Piranga, expediu o a náo Pedro Primeiro para o Rio de Janeiro e fez-se de vela no dia 18 de maio de 1825. A intenção era navegar até a latitude dos Açores e depois retornar ao Rio de Janeiro (intenção estranha para quem devia voltar ao Rio de Janeiro, talvez lhe faltasse ares europeus).
Fragata Piranga
            Ao passar por S. Miguel descobriu que o mastro grande estava partido e o navio sem condições de velejar pelo Atlântico, de volta ao Rio. Procurou abrigo no porto Inglês, ancorando em Spithead a 25 de junho.
            Na Inglaterra procurou o Enviado Brasileiro em Londres, Manuel Rodrigues Gameiro Pessoa, para que providenciasse reparos e víveres para a viagem de regresso. Contudo seus contatos com o Enviado Brasileiro não foram dos mais amistosos, além disso, Cochrane demorou-se muito mais que o necessários na Inglaterra, levantando suspeitas que ele já havia aceito o convite de ser o Primeiro Almirante da Esquadra Grega. Segui-se uma intensa troca de correspondências entre o Enviado, os Ministros brasileiros e o Almirante.
Presença da Fragata Piranga na Inglaterra é anunciada em Portugal
            Em três de novembro anunciou-se a paz entre Portugal e o Brasil, reconhecendo a Independência do Império. Isto representava apenas uma coisa para Cochrane: jamais veria suas indenizações por presas de guerra.
            Ao iniciar o ano de 1826 e estando ainda Cochrane na Inglaterra, recebeu a sua carta de demissão, datada de 30 de dezembro de 1825.
            Os serviços prestados por Lorde Cochrane ao Império Brasileiro são de valor inestimável para a consolidação do território como ele é ainda hoje. Nos trinta anos seguintes, Cochrane tentou judicialmente obter suas indenizações por presas de guerra (mais de 140 navios, rendas de alfândegas e propriedades de portugueses de pelo menos três províncias), as quais foram sempre negadas sob a alegação de que a maior parte fora tomada de forma ilegal e contra as leis de presa, além de ele nunca ter prestado contas oficialmente de grandes parcelas de dinheiro destinadas à guerra de Independência. Ao que parece, de fato, o Primeiro Almirante do Brasil realmente capturava tudo que podia se mexer sob a superfície do extenso litoral brasileiro e tinha uma ambição descomedida por transformar tudo em dinheiro, mas suas pagas foram muito aquém dos serviços prestados ao Império.


[1] Brulote – Pequenos navios, que possuíam velocidade, porém sem poder de fogo. Eram municiados com uma grande carga de explosivos e lançados em direção aos principais vasos de guerra dos inimigos. Lorde Cochrane havia angariado notoriedade na utilização de brulotes em campanhas anteriores e era temido por isso, já que ele mesmo se encarregaria de acender as cargas, como fizera nos portos bascos.

3 comentários:

  1. Lorde Cochrane teve um grande papel na Independência do Brasil, pelas suas ações marítimas e até políticas, e se orgulhava disso, não podendo ser esquecido.

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  2. Eu sou um simples mn da MB e gosto muito da história de nossa marinha.muito grato por esta pg .

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  3. Lord Cochrane, no inicio do século XIX o Lobo do Mar para o Napoleão Bonaparte, mas para os brasileiros o Libertador BR, pois, em 1823 e 1824 fez a verdadeira independência do Brasil, emprestando seus navios para nós, sendo o início da nossa Marinha, lutando contra os poderosos portugueses no Maranhão e Bahia, derrotando-os e expulsando-os, senão até hoje seríamos escravos dos lusitanos. D. Pedro I só gritou Independência ou Morte, mas quem lutou foi o Lord Cochrane, fazenda a nossa nação ser livre. É a presença britânica no solo brasileiro e num momento difícil. Parabéns ao grande Lord Cochrane, o primeiro Almirante brasileiro da história do Brasil livre. SÓ COMO LEMBRETE, D.PEDRO CALOTEOU O LORD COCHRANE, POIS O SEU PAI D. JOÃO VOLTOU PARA PORTUGAL E LEVOU TODO O DINHEIRO DO BANCO DO BRASIL, FICANDO NA ÉPOCA UM VINTÉM NA NOSSA NAÇÃO BR. Desde de D. João o pai de D. Pedro I que só tem roubos grandes no Brasil.

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