Julius e Ethel
Rosenberg, casal de judeus norte-americanos, foram acusados no início da década
de 50 de venderem aos soviéticos os segredos de fabricação da bomba atômica e
muitas outras informações consideradas saltos tecnológicos-militares. Depois de um
controverso julgamento, de vinte e seis apelações de clemência e diante de uma
conturbada e confusa opinião pública mundial, eles se tornaram os únicos
cidadãos civis dos EUA a serem executados por conspiração. Os Rosenbergs encontraram
seus destinos na cadeira elétrica do presídio de Sing Sing sem nunca admitirem
suas culpas, deixando grandes dúvidas quanto a idoneidade do julgamento e
colocando em xeque todo o aparato judiciário americano.
PANO DE FUNDO
Terminada a
Segunda Grande Guerra, os EUA emergiram como única potência bélica e econômica
mundial e, ainda, com seu território intacto.
Por outro lado a URSS recuperava-se heroica e vertiginosamente,
principalmente no campo bélico. Era a esperança de equilíbrio de forças da
outra metade do Mundo, era a Guerra Fria em pleno vapor. Em fins da década de
40, o mundo viu a sovietização do Leste Europeu, o Bloqueio de Berlim e as
intimidações soviéticas à Grécia e à Turquia. A esta última, os americanos
respondiam com a Doutrina Truman, apoio econômico e militar a estes dois países.
Em 1949 os comunistas liderados por Mao Tsé-Tung tomaram poder na China e os
soviéticos detonaram sua primeira bomba nuclear, graças aos saltos tecnológicos
extraordinários proporcionados pela sua rede de espiões no ocidente. Em 1950
começou a Guerra da Coréia, a qual em três anos mataria cerca de 35 mil
norte-americanos.
Internamente, os
Estados Unidos era contagiado pelo vírus da histeria anti-comunista,
disseminado a partir de fevereiro de 1950 por um obscuro senador de Wisconsin,
Joseph R. McCathy.
O PRINCÍPIO
Em fevereiro de
1950, as autoridades britânicas prenderem Klaus Fuchs, alemão naturalizado
americano, e um dos cientistas estrangeiros que acompanharam a preparação e
explosão da primeira bomba atômica norte-americana. Fuchs era acusado de
repassar segredos militares americanos aos soviéticos. Acionado o Federal
Bureau of Investigation (FBI), descobriu-se que seu contato americano era Harry
Gold na cidade da Filadélfia. Preso, Gold logo confessou que o responsável por
lhe passar informações secretas, era David Greenglass, ex-sargento do Exército
dos Estados Unidos, que trabalhara no centro de provas atômicas de Los Alamos.
Greenglass, ao
ser preso pelo FBI, em 15 de junho do mesmo ano, concordou em entregar todo o grupo às
autoridades. O grupo a que ele se referia era o cunhado Julius Rosenberg e a
irmã Ethel. Consta do processo que Greenglass copiou projeções e fez anotações
sobre o programa de pesquisa atômica dos Estados Unidos, as quais foram
entregues aos soviéticos. Harry Gold, o correio de Fuchs, cofessou ao FBI que
recebeu instruções do vice-consul da União Soviética em Nova York, Anatoli
Yakoviev, para procurar David Greenglass com a senha “Venho em nome de Julius”.
Segundo David Greenglass, ele e sua esposa haviam sido recrutados por Julius
Rosenberg que seria o principal gerente desta rede de espionagem para os
soviéticos.
A situação dos
Rosenbergs agravou-se quando David afirmou ter entregue os desenhos e anotações
ao seu cunhado Julius e que sua irmã,
Ethel, havia datilografado as anotações.
O julgamento
começou no dia seis de março de 1951, com um júri formado por onze homens e uma
mulher. Muitas petições feitas pelo advogado Emmanuel Bloch reclamando de erros
processuais foram firmemente rejeitadas pelo juiz Irwing Kauffman. A 5 de abril
de 1951, o casal, que recusou qualquer acordo para confessar o crime, ouviu, de
mãos dadas, a sentença que os condenou à morte: “O crime que cometeram é pior
que o de assassinato. Acredito que a conduta de ambos, colocando os segredos
da bomba atômica no poder da União Soviética, alterou o curso da história, com
desvantagem para nosso país... ela causou... a agressão comunista na Coréia, que
resultou na morte de pelo menos 50 mil pessoas e, quem sabe, milhões de
inocentes pagarão o preço de suas traições”.
Juiz Irwing Kauffman |
COMOÇÃO NACIONAL E REPERCUSSÃO INTERNACIONAL
O movimento de esquerda
americano, que se calara nos primeiros momentos do caso, logo partiu para a
franca defesa dos Rosenbergs, denunciando como caso de anti-semitismo, armação
judicial e histeria anticomunista. Foi criada a Comissão Nacional por Justiça
no Caso Rosenberg, a qual publicava na forma de opúsculo as cartas do casal,
causando grande comoção (o casal escreveu um total de 568 cartas na prisão Sing
Sing).
Albert Einstein
escreveu uma carta ao The New York Times pedindo clemência para os Rosenbergs.
Próximo à execução, a Casa Banca recebia milhares de cartas e telegramas
pedindo clemência ao casal. Mal o presidente Dwight David Eisenhower assumiu o
cargo em janeiro de 1953, se deparou com o "presentinho" do seu antecessor,
Harry Truman: o pedido de clemência dos Rosenbergs. Em 16 de fevereiro,
Eisenhower, enfrentando todo o descontentamento popular, negou oficialmente o
pedido de clemência.
Para os franceses,
a possibilidade de que o casal Rosenberg fosse executado injustamente fez com
que aquele povo desenterrasse seus próprios fantasmas. Tocando fundo a psiquê
nacional, relembraram o Caso Dreyfus, comparando seu próprio anti-semitismo,
erros processuais gritantes, intrigas e falsidades ocorridos naquele caso com o
que supunham estar ocorrendo com o Caso Rosenberg. Em novembro de 1952,
l’affaire Rosenberg ganhou status de escândalo com a publicação de um artigo de
Howard Fast (membro do PC americano e romancista renomado) no jornal comunista
l’Humanité. Fast denunciou o fascismo em torno de Eisenhower e a histeria
anticomunista. No jornal de esquerda Libéracion, Jean-Paul Sartre qualificou a
iminente execução dos Rosenbergs de “linchamento legal, que mancha de sangue
toda a nação”. A 3 de dezembro de 1952 foi fundado em Paris a Comissão
Internacional de Defesa dos Rosenbergs.
Na Itália, a
imprensa mergulhou de cabeça na defesa dos Rosenbergs, praticamente obrigando o Papa Pio XII a usar sua influência para barrar a execução. Até na
Inglaterra, cujo serviço secreto fora o estopim da trama, as mobilizações
ocorreram, embora tardiamente.
O PRINCÍPIO DO FIM - O JULGAMENTO
Três pontos
marcaram de forma indelével o julgamento dos Rosenbergs:
1° - Irmão contra irmão: Com forte
apelo emocional, o testemunho de David Greenglass incriminando a irmã, Ethel
Rosenberg, como responsável por datilografar todos os documentos que seriam
enviados para a União Soviética, e o cunhado, Julius, responsável por gerenciar uma rede de espionagem, causou uma profunda impressão no júri. Se por
um lado David era visto como um monstro capaz de quebrar os laços familiares
para salvar a sua própria pele, por outro dava uma credibilidade inquestionável
ao seu depoimento, demonstrando um forte arrependimento por ter traído sua
pátria.
2° - Impugnação das
provas técnicas: O principal advogado de defesa dos Rosenbergs, Emmanuel Bloch,
tentou uma manobra (inexplicável) cujo "tiro saiu pela culatra". Bloch
solicitou que as provas técnicas, compostas dos desenhos da lente detonadora da
bomba atômica (feitos de memória por David Greenglass) e 12 páginas descritivas
do seu funcionamento, fossem impugnadas, para não fornecer elementos secretos
aos inimigos da nação norte-americana, mesmo tendo as referidas sido autorizadas,
em caráter excepcional para este julgamento, pela Comissão Nacional de Energia
Atômica. Este ato somado ao depoimento do cientista Walter Koski, o qual
afirmou que os desenhos eram aproximados o suficiente, portanto úteis aos
cientistas atômicos soviéticos, afetaria fortemente o ânimo dos jurados no
sentido de dar importância e relevância a tais provas. O pedido de impugnação
das provas por parte da defesa deixou o próprio promotor-chefe, Saypol, confuso,
pois ele acusaria com a certeza de não dar aos réus qualquer possibilidade de
defesa, ou seja, provar que as informações eram praticamente irrelevantes para
o esforço soviético. Este episódio deixaria claro para o júri que a defesa
assumia, assim, que seus clientes passaram informações secretas, relevantes e de
extrema importância estratégica para os soviéticos.
3° - Recurso a 5° Emenda: Recorrer excessivamente a
5° Emenda Constitucional, ou
seja, negar-se a responder para evitar constituir prova contra si, foi uma tática
utilizada incontáveis vezes tanto por Julius quanto por Ethel Rosenberg, quando
questionados sobre assuntos que se referissem as suas participações no partido
comunista. Esta prática não pode realmente ser levada em consideração para
incriminar o réu, contudo o efeito sobre os jurados naquele momento foi
diametralmente oposto, pois a cada recusa e invocação a quinta Emenda um grande
golpe era dado na confiança e credibilidade tanto pessoal (dos réus) quanto do
próprio Partido Comunista Americano. Assim, descartar o Partido Comunista do
enredo invocando a 5° Emenda,
fazia parecer cada vez mais que era uma tentativa de apagar a real vontade dos
réus de passar informações secretas aos comunistas, o que nem era objeto do
julgamento, pois eram acusados de conspirar para espionar para uma nação estrangeira,
independente do regime desta.
Um dos rascunhos de David Greenglass |
O FIM DO PRINCÍPIO - A EXECUÇÃO
A sentença
proferida em março de 1951 agora tinha data para ser executada, 19 de junho de
1953. Dias antes, milhares de manifestantes se organizavam para tentar comover o
Presidente Eisenhower. Na quinta-feira, 18 de junho, cerca de 900 manifestantes
partiram de Nova York, num trem especialmente alugado, com destino à Casa
Branca, engrossando, assim a vigília promovida pela Comissão Nacional por
Justiça no Caso Rosenberg.
Todos estavam com
os nervos à flor da pele quando dois dias antes da data marcada um grupo de
jornalistas recebeu a informação de que o juiz William Douglas decidiria
sobre uma importante liminar no caso Rosenberg. O advogado Fyke Farmer levantou
a seguinte questão a ser apreciada em liminar: a Lei de Energia Atômica
aprovada em 1946 poderia mesmo ser aplicada em crimes cometidos em 1944 e 1945?
Farmer sustentava que sim, pois a conspiração descrita na denúncia prosseguira
nos anos de pós-guerra. Desta forma os Rosenberg teriam sido julgados por uma
lei errada, a Lei de Espionagem de 1917, a qual deveria ter sido substituída
pela Lei Atômica de 1946. Isso dava a vantagem de que esta segunda lei só
permitia a pena de morte se a promotoria pudesse provar que os réus tinham deliberadamente
pretendido prejudicar a defesa nacional.
Naquele dramático
momento quando os advogados Fyke Farmer e Daniel Marshall se deixavam
fotografar juntos, o oficial da Suprema Corte, Harold Willey, anunciou a
sentença de Douglas: Liminar concedida!
Em questão de
minutos a informação chegou às multidões em frente ao prédio da Suprema Corte e
da Casa Branca. No presídio de Sing Sing, o diretor, Wilfred Denno, divulgou
pelo sistema de auto-falante.
A alegria não
duraria muito, o juiz Frederick Vinson, presidente da Suprema Corte, ao tomar
conhecimento da liminar, convocou o tribunal em sessão especial para o dia
seguinte, a fim de analisar e votar a liminar.
Às 12h do
dia 19 a Suprema Corte anunciou a negação do pedido de adiamento da execução. A
execução estava mantida para as 23 horas daquele dia. Cerca de 5 mil pessoas se
aglomeraram na Union Square em Nova York para protestar contra a execução. Como
última tentativa Bloch redigiu um último apelo de clemência ao presidente;
partiu às pressas para a Casa Branca, tentou entregar o pedido ao
ajudante-de-ordens do presidente, Sherman Adans, ou ao secretário de Imprensa,
James Hagerty; sem obter êxito, deixou o pedido, junto com uma carta de Ethel,
na portaria. Eisenhower foi implacável ao negar o pedido. Numa ação desesperada
os advogados de defesa apresentaram ao juiz Kaufman a alegação de que não seria
certo que os condenados morressem durante o Sabá, quando os judeus ortodoxos
evitam qualquer atividade desnecessária. Não podendo mais protelar a execução
decidiu-se antecipar para pouco antes do por do sol do dia 19, exatamente às
20:00h, portanto antes do início do Sabá.
Em Sing Sing
Julius e Ethel recebem a permissão de passarem alguns momentos juntos antes da
execução. Ethel escreveu a última carta para seus filhos, a qual trazia como
última frase antes da despedida o seguinte: “Lembrem-se sempre de que somos inocentes e não poderíamos violentar
nossa consciência.” Não é difícil imaginar o efeito destas palavras nas
cabecinhas de Robert, 6 anos, e Michael, 10 anos. E a força com que isto
alimentaria suas lutas por justiça e para limpar o nome da família no futuro.
Nas últimas horas no seu pequeno cubículo (4x2m) Julius guardou todos os seus
pertences e fez seu testamento, dando a guarda de seus filhos a Emmanuel Bloch,
principal advogado de sua defesa; deixou aí também um apelo dramático: “Jamais permita que mudem a verdade de nossa
inocência”.
Chegada a hora, Julius foi levado a câmara de
execução. Às 20:01h a multidão amontoada em vigília na Union Square recebe a
notícia da execução de Julius. Não havia mais esperança! Chegou a hora do
rabino Irving Koslowe acompanhar Ethel a sala de execução. Ele clamou para que ela dissesse alguma coisa que suspendesse a execução; um nome, um fato, qualquer
coisa. Mas Ela, impassível, respondeu apenas que nada sabia, que era inocente.
Seguiu impassível para câmara de execução e cadeira elétrica. Às 20h11min30s
Joseph Francel, o executor, acionou a primeira descarga elétrica. Três
descargas de 2000 volts; mas quando da inspeção médica ela ainda estava
viva. Mais duas descargas e às 20h16min ela estaria morta. O pôr do Sol
anunciava o Sabá.
A execução seguiu
o protocolo padrão adotado pelo estado de Nova York desde 1889, eletrodos
embebidos em água salgada são colocados na cabeça do condenado, então é aplicada
um descarga elétrica de 2000 volts por três segundos, seguidas de mais duas
descargas de um minuto. Um capuz colocado na cabeça poupa os espectadores da
visão das convulsões durante as descargas elétricas.
Dois dias depois,
mais de oito mil pessoas acompanhariam o funeral do casal. Manny Bloch,
advogado que acompanhou o caso desde o início e tentou os pedidos de clemência
junto ao presidente fez um discurso feroz acusando Eisenhower, o Secretário
de Justiça e o chefe do FBI, J. Edgar
Hoover.
O PACTO DE SILÊNCIO E SUAS CONSEQUÊNCIAS PSICOLÓGICAS
O que teria
levado Julius e Ethel a negarem-se a possibilidade de terem suas penas comutadas
para prisão e poderem criar seus filhos? Aos olhos de muitos, principalmente de
seus filhos, apenas uma forte convicção na inocência os faria negar um
acordo de confissão, deixando-se fritar na cadeira elétrica e abandonando suas
crianças órfãs de pai e mãe. Um sentimento de crueldade assolou os EUA, e no mundo todo pairou uma nuvem negra de injustiça e falta de clemência. Décadas passariam com a questão Rosenberg desenterrada de tempos em tempos e martelando
nossas consciências. Teriam os EUA cometido a maior injustiça de sua história?
Quem tinha a resposta?
No final da
década de 70 e início da de 80, os filhos do casal, Michael e Robert, militaram
ferozmente pelo direito de reverem todas as peças do processo que executou seus
pais, numa tentativa hercúlea de limpar o nome da família e desfazer uma
suposta injustiça que durava décadas.
THE ROSENBERG FILES
Desde a década de
cinquenta muitos livros foram escritos sobre o julgamento e execução do casal
Rosenberg, mas o divisor de águas para esta estória surgiu com um artigo de
Ronald Radosh com coautoria de Sol Stern, publicado em 1979 no The New
Republic. Radosh, comunista apaixonado e muito atuante nos Estados Unidos,
resolveu colocar a sua formação a serviço de sua ideologia (graduado e
doutorado em história) e conceber um projeto de pesquisa a fim de realmente
provar a inocência e limpar o nome dos Rosenbergs. À medida que se aprofundava
em suas pesquisas concluía pela culpabilidade do casal. Além de contar com 2000
páginas do processo dos Rosenbergs, fez centenas de horas de gravações de
entrevistas com expoentes de esquerda contemporâneos, que à época tinham
orientação para ocultar as ligações de Julius, porém passados os anos
resolveram liberar as informações verdadeiras. Atormentado, procurou conselho
de seus amigos de esquerda para publicar um artigo sobre o assunto. Tal atitude
foi gravemente repudiada por todos os seus amigos militantes. Radosh declara
que mesmo antigos amigos deixaram de falar com ele por causa do artigo e
sofrera ataques tanto do Governo quanto da esquerda americana que apoiava a
inocência dos Rosenbergs. No centro deste último grupo estava o filho mais novo
do casal, Michael Meeropol que o acusava de estar tentando desarticular
completamente a esquerda Americana e resuscitar a “constelação de ideias” que
levaram seus pais para a cadeira elétrica.
Sem desanimar, o
historiador reviu todo o seu projeto, tendo acesso a cerca de 200.000 páginas
de documentos tornados públicos a partir de julho de 1975 por diversas
agências, como FBI, CIA e Department of the Navy, em decorrência do Freedom of Information Act (Lei de
Liberdade de Informações). Em decorrência dessa extensa pesquisa surgiu, em 1983, o livro The Rosenberg file, a search
for the truth; escrito por Ronald Radosh em parceria com Joyce Milton.
Assim, concluía sem sombra de dúvidas que Julius havia sido um espião da União
Soviética e que Ethel não só tinha conhecimento como participava das ações. Por
este brilhante trabalho de pesquisa Radosh foi brutalmente atacado pela
esquerda, pela imprensa, pelas universidades e pelas editoras. Viu-se
desempregado e com dificuldades para se manter. O mundo não estava pronto para
admitir que os Rosenbergs poderiam ser realmente espiões e que o governo
americano não havia cometido a maior injustiça judiciária de sua história.
A pesquisa de
Radosh chegou a seis conclusões:
1) Julius
Rosenberg teve um papel importante na rede de espionagem soviética e passou
informações àquele país, que acreditava ser de grande relevância sobre a bomba
atômica;
2) Klaus Fuchs já
havia passado anteriormente segredos atômicos aos soviéticos e os desenhos
fornecidos por David Greenglass confirmavam as informações anteriores;
3) Embora Ethel
Rosenberg não tenha se envolvido profundamente no serviço de espionagem, tinha
conhecimento destas atividades e datilografou diversas páginas de informações;
4) O FBI sabia do
papel limitado de Ethel Rosenberg, mas forçou a promotoria a exagerar seus atos
a fim de pressionar Julius a colaborar;
5) Muitas das evidências
contra os Rosenbergs eram altamente questionáveis e provavelmente falsas (neste
caso verificou-se anos mais tarde que a estória não era bem assim, pois
existiam evidências sólidas, contudo ainda não podiam ser dadas a conhecimento
público por uma questão de segurança nacional);
6) Quase todos os
envolvidos no enredo (da KGB ao FBI, passando-se pelos defensores) ariscaram
francamente a vida dos dois a fim de defenderem seus interesses particulares.
Suas conclusões
só viriam a ser completamente confirmadas para o público geral com a divulgação
pelo Governo Americano das chamadas Mensagens Venona em julho de 1995.
AS MENSAGENS VENONA
A agência americana de informação, National
Security Agency (NSA), dedicou dezenas de anos ao árduo trabalho de tentar decodificar
as mensagens enviadas para KGB em Moscou. Com seu mais importante projeto,
denominado Venona, possibilitou a tradução de várias mensagens criptografadas graças
a um livro de códigos soviético encontrado pelos finlandeses em 1941 e remetido
aos americanos em 1945. Os especialistas da NSA foram capazes de decifrar
mensagens secretas endereçadas à sede da KGB entre 1943 e 1945. Venona permitiu
identificar as atividades do casal Rosenberg, mas o governo americano não
poderia deixar que o governo soviético soubesse da operação que estava em
curso. Por isso nenhuma mensagem decodificada sobre os Rosenbergs foi fornecida
ao tribunal que os condenou, dificultando o trabalho do juiz e dos jurados,
confrontados com provas apenas circunstanciais. Graças à manutenção deste segredo foi possível
identificar outros espiões que revelaram os segredos da bomba americana à URSS
(Klaus Fuchs, Nunn May, Bruno Pontecorvo) e neutralizar alguns espiões
soviéticos de primeira importância, entre eles Burgess e Maclean, do grupo de
Cambridge. O casal morreu na cadeira elétrica jurando inocência e comovendo o
mundo, no entanto, os documentos divulgados pela NSA em 12 de julho de 1995
(confirmados em fevereiro de 1996 por um general russo da reserva) mostraram
que Julius Rosenberg era o chefe de uma importante rede de espionagem que
trabalhava para a URSS sob o pseudônimo Antenna - Liberal. Além disso, uma mensagem
de 27 de novembro de 1944 provou que Ethel estava a par das atividades de seu
marido. Outras mensagens sugerem que os Rosenbergs trabalhavam no recrutamento
de novos espiões. Consulte as mensagens Venona nos endereços oficiais abaixo:
ALEXANDER FEKLISOV
Muitas vezes o
caso Rosenberg parece estar totalmente esclarecido e resurgem novas questões,
sempre pretendendo limpar o nome Rosenberg e acabar com o rótulo de espiões ou
traidores. Mesmo com a liberação, por parte do Governo Americano, das mensagens
Venona, os irmãos Michael e Robert Meeropol-Rosenberg teimaram em discordar,
duvidando da veracidade de tais mensagens interceptadas. Acusaram o FBI e CIA de
criarem estas provas para justificar o julgamento e execução de seus pais em
1953. Segundo estes, as mensagens Venona não dizem nada, embora
digam tudo! Sendo assim, por mais que se saiba sobre o caso sempre paira uma
nova dúvida. Atualmente Robert defende a total inocência de sua mãe, já que as
provas contra Julius são totalmente irrefutáveis há mais de duas décadas.
Recentemente mais
uma parte da estória de espionagem soviética veio à tona. Alexander Feklisov,
importante membro da KGB e responsável por uma significativa rede de espiões nos
Estados Unidos e Reino Unido, resolveu falar publicamente sobre suas atividades
naquele período. Suas primeiras revelações foram ao ar num programa da
Discovery Channel em 1997. Talvez esta experiência o tenha incentivado a publicar
suas memórias, onde finalmente pôs a descoberto alguns círculos de espionagem
da antiga União Soviética nos Estados Unidos. Feklisov trabalhou no Consulado
Soviético em Nova York entre 1941 e 1946. Lá recebeu a missão de seu
superior, Anatoly Yatskov, de promover o recrutamento de espiões militares e
industriais contra os EUA. Feklisov defende Julius Rosenberg por seu trabalho
em prol do estado soviético, alegando que as informações com valor militar
ajudaram à defesa da União Soviética (e do Comunismo) contra a ameaça nazista
e, em posterior análise, detalhes da bomba atômica garantiram aos cientistas
soviéticos o rápido desenvolvimento desta (aliás baseadas detalhadamente nos
protótipos americanos). Segundo declara Feklisov em sua biografia, ele mantinha encontros com Julius, a quem chamava de Libi (seu codinome
era oficialmente Liberal), de frequência semanal, chegando a ter um total de
aproximadamente 50 encontros, nos quais Julius o entregava de 600 a 1000
páginas de material sensível. Além dos Rosenbergs, também Joel Barr, Albert
Sarant e William Perl faziam parte da rede de espionagem sob sua
responsabilidade, todos foram aliciados por Julius por terem amizades do tempo
de escola e serem simpatizantes do comunismo soviético.
Embora a rede de Julius tenha
produzido algum material sobre a bomba atômica (vindo das mãos de David Greenglass)
este era de pouco valor, por outro lado, as informações relativas ao
desenvolvimento de outros equipamentos como radar, infravermelho, sonar, além
de dados completos do caça à jato P-80 Shooting Star eram de valor inestimável
e economizaram muitos milhões de dólares para a URSS. Exemplo chocante disso
está no presente de Natal de 1944 que Julius entregou a Feklissov, o Fusível de
Aproximação, elemento essencial para contrabalançar a guerra aérea, pois com
ele o projétil da artilharia explodiria próximo do alvo (e não ao contato),
garantindo a eficácia de seus fragmentos e que o mesmo não se perdesse caso não
atingisse o alvo em cheio. Julius não entregou anotações ou manuais somente,
entregou o próprio dispositivo funcionando para que os soviéticos estudassem e
adaptassem para sua anti-aérea. Este presentinho roubado havia custado cerca de um
bilhão de dólares em desenvolvimento ao governo americano.
Fuso de aproximação |
Julius também
fora o responsável por recrutar Morton Sobell, engenheiro pesquisador da
General Eletric, responsável por subtrair quarenta pesquisas completas,
representada por milhares de páginas de textos e desenhos sobre sonares, raios
infravermelho, dispositivos de artilharia e as primeiras informações sobre
mísseis teleguiados. Sobell também fora descoberto e julgado junto com os
Rosenbergs, sendo condenado a trinta anos de prisão.
O IRMÃO
No caso Rosenberg,
David Greenglass se tornou o estopim de uma tragédia familiar de proporções
épicas. Desde o início David e sua esposa Ruth foram taxados pela promotoria,
juiz e opinião pública como os grandes traidores, pois foram capazes de trair
os próprios parentes próximos, segundo se afirmou, para salvar a própria pele.
Após sua performance pública de três dias, David emergiu como grande vilão e morreu
para o mundo; desapareceu das vistas públicas, cumpriu sua prisão e passou a
viver sob pseudônimo o resto da vida.
O grande
responsável pela condenação se calou por muitos anos, contudo depois de quase
46 anos após a execução do casal, David resolveu falar ao jornalista Sam Robert, que
há muitos anos estudava o caso. Desta entrevista reveladora surgiu, em 2001,
o livro The Brother, the untold story of the Rosenberg case, o qual esclarece
as últimas dúvidas sobre caso.
O irmão de Ethel
jamais quis a morte de sua irmã, pelo contrário, acreditava que cooperando com a
justiça e o FBI, estaria salvando a vida de todos, da mesma forma que salvou a
sua. Por outro lado, suas convicções de esquerda eram extremamente fracas e, fora
da forte influência de Julius, encontrava-se arrependido do que fizera. Vendo o desmantelamento da rede de espionagem como a única forma de reparar o
seu erro. Toda a sua família estava e permaneceu ao seu lado nesta decisão,
consequentemente contrários a decisão de Ethel de continuar negando os fatos e
levar tudo até a última consequência.
De fato,
esquecendo-se de que David foi um agente de espionagem, ele quase poderia ser
considerado um herói que teve de passar por uma dura provação para reparar os danos decorrentes do vazamento
dos segredos americanos para Moscou.
De sua parte,
David fez o possível para evitar a morte de sua irmã, mas ela estava decida a
morrer pelos ideais (não muito claros) de Julius.
David Greenglass |
CONCLUSÃO
Por algum tempo
duvidou-se que Julius Rosenberg fosse realmente espião soviético, atribuindo-se
ao caso uma histeria macartista amparada por fraudes e erros processuais. A
despeito das reais fraudes e erros que possam ter ocorrido no processo, Julius
Rosenberg foi realmente um espião muito produtivo para a União Soviética e
infringiu graves prejuízos na hegemonia americana do pós-guerra. Quanto a Ethel
Rosenberg, não há como negar que ela era conhecedora, no mínimo, de todas as
atividades do marido, portanto sendo justo seu julgamento como conspiradora. No
entanto, também não se pode negar que sua pena fora injustamente pesada e fruto
de uma pressão para que Julius confessasse, já que sua contribuição fora
bastante limitada.
O caso todo pode
ser definido como duas estratégias opostas que deram errado. Como numa queda de
braço; de um lado os Rosenbergs negavam sua culpa na esperança de sensibilizar
a opinião pública, única capaz de brecar a execução àquele momento. Conseguiram mobilizar
multidões, mas não brecaram a execução. Do outro lado, a justiça americana (pressionada
pelos sistemas de informações) forçava a condenação quase injusta de Ethel a
morte para fazer com que Julius confessasse. Na cela de execução foi colocado
um interfone para que pudessem confessar até o último momento, necessitando
apenas retirar o aparelho do gancho e falar. Para que toda a história tivesse
outro desfecho bastava que os dois lados cedessem um pouco e todos sairiam
vencendo; o casal não morreria e logo a culpa deles viria inegavelmente à tona.
Contudo a queda de braço prosseguiu de forma irracional e ambos os lados
perderam. Os Rosenbergs mantiveram suas alegações de inocência e foram
executados. A execução por sua vez foi um terrível golpe na credibilidade do
sistema judicial americano e, em última análise, no próprio governo; levando a
cabo uma condenação excepcionalmente pesada e amparada em provas apenas
circunstanciais.
VEJA IMAGENS HISTÓRICAS
VEJA IMAGENS HISTÓRICAS
REFERÊNCIAS
FEKLISOV, Alexander. The man behind the Rosenbergs. Engma Books. New York,
2004.
KOURI, Assef. O caso Rosenberg,
50 anos depois. Códex., Lu Fernandes escritório de comunicação. São Paulo,
2003.
NATIONAL SECURITY AGENCY. Venona.
Disponível em:<http://www.nsa.gov/applications/search/index.cfm?q=venona>. Acessado em:
21 julho 2012.
RADOSH, Ronald e
MILTON, Joyce. The Rosenberg files, a
search for the truth. Holt, Rinehart and Winston, New York, 1983.
ROBERTS, Sam. The Brother, the untold story of the Rosenberg
case. Random House Trade Paperbacks Editions. New York, 2003.
Matéria Muito Interessante, gostei muito.
ResponderExcluirGrande Abraço Manteiguinha
De todos os textos que li a respeito, esse foi o melhor. Parabéns pelo seu trabalho.
ResponderExcluir