Em 1897 o escritor irlandês Bram Stoker publicou seu romance de terror chamado Drácula. O romance poderia ter sido um dos muitos do gênero que caíram em total esquecimento com o passar do tempo, contudo o sucesso deste romance, de fôlego inesgotável, garantiu-lhe uma parcela no gênero do terror jamais igualada. O romance de Stoker, quando não se apoiou em fatos históricos e geográficos de máximo impacto, o fez em lendas e superstições que ainda hoje influenciam o modo de pensar da população de diversos países nos quatro cantos de nosso planeta. Garantindo, assim, um sucesso histórico e de atualidades que não parece ter data para ser superado.
A trama possui três personagens centrais: o protagonista que narra a estória (parte em anotações de um diário) Jonathan Harker; sua noiva, Mina e o excêntrico e misterioso Conde Drácula. Este, um vampiro que vive na obscura e mística Transilvânia. Drácula acredita que a jovem Mina é a reencarnação de sua noiva e para seduzi-la, atrai Jonathan ao seu castelo de forma a separá-los enquanto desenvolve seu plano de trazer Mina para seu mundo das trevas.
Como é notório, Drácula era um vampiro que necessitava de sangue para se alimentar e tinha poderes de se transformar em morcego e voar, bem como em lobo, com extrema força e ferocidade. Estas características correspondem em quase sua totalidade às lendas e mitos existentes na Transilvânia, Valáquia e outros países próximos, daí o fato de Stoker localizar seu enredo na Europa Oriental.
Uma edição brasileira do romance. Editora MADES, tradução de Sandra Guerreiro.
Bram Stoker nunca esteve na Transilvânia (Romênia), contudo realizou detalhado estudo sobre os costumes, mitos e geografia da Europa Oriental no Museu Britânco. Tendo contato com a idéia de que para matar um ser “não-vivo” era necessário transpassar seu coração com uma estaca, não deve ter tido muita dificuldade em correlacionar o fato com o hábito de Vladslav III de empalar seus inimigos. Aguçando, assim sua criatividade.
VLADSLAV III
A principal inspiração de Bram Stoker foi uma personagem real da história da Romênia, o soberano de uma das três nações que formaram aquele Estado, a Valáquia. Trata-se de Vladslav III, ou simplesmente Vlad, o Empalador ou, ainda, Drácula. Seu principal governo, entre 1452 e 1462, foi marcado por extrema violência e crueldade no momento de punir seus inimigos. Consta que o codinome Empalador foi devido ao fato de nestes dez anos ter mandado empalar cerca de 100.000 pessoas, na maioria invasores turcos. No entanto, a pena era aplicada para crimes comuns da população da Valáquia. Há registro de Vlad ter mandado empalar 20.000 turcos de uma só vez durante uma das invasões da Valáquia. O processo de empalação era por demais cruel e tinha como objetivo causar terror aos seus inimigos, fazendo-os hesitar em combatê-lo. A vítima era transpassada, ainda viva, por uma longa estaca de madeira que, após ser inserida no ânus, deveria percorrer todo o corpo até próximo a cabeça. Em seguida a estaca era levantada, deixando o infeliz condenado, agonizando ou morto, suspenso até que os tecidos de seu corpo não mais pudessem sustentar seu peso, quando, então, descia pela estaca até atingir o chão novamente.
Com relação aos assuntos diplomáticos, possuía um "tato" todo especial; certa vez mandou que pregassem uma de suas chinelas no crânio do embaixador turco e o enviou numa padiola de volta à Turquia, para expressar seu desprezo por aquele país.
Outra maneira de expressar seu desprezo pelos turcos era banquetear-se ao ar livre enquanto seus inimigos derrotados eram empalados diante de sua ceia. Atos como este lhe garantiram a terrível fama de cruel, sanguinário e sádico. São inúmeros os relatos de crueldade e de aplicação da pena capital por qualquer motivo fútil, no entanto afirma-se que durante o seu reinado o povo era extremamente honesto, praticamente inexistindo crimes entre a população. O que não surpreende, pois roubar uma galinha e correr o risco de ser empalado vivo não parece muito sensato!
O codinome Drácula herdara de seu pai Vlad II e existem algumas teorias para a origem deste codinome. A primeira e mais aceita pelos historiadores é que Vlad II (seu pai) teria sido sagrado como Cavaleiro da Ordem do Dragão pelo Imperador Romano Sigmundo de Luxemburgo, no ano de 1431. Daí este soberano da Valáquia utilizar o símbolo do dragão em suas moedas. A palavra “Drac” significa dragão, somando-se o artigo definido “ul”, Dracul, ou “O Dragão”. O acréscimo da partícula final “a” significa “filho de”, portanto, Drácula, Filho do Dragão.
Este termo facilmente se popularizou para definir Vlad III, pois o dragão é o símbolo do Diabo, a palavra Drac em moldávio tanto tem o significado de dragão quanto de Diabo. Portanto, para o povo e, principalmente para os turcos, Drácula era o Filho do Diabo.
LENDA SOBRE VAMPIRO
A origem da lenda sobre vampiros se perde na história e nas tradições orais. Na Epopéia de Gilgamesh (2000 a.c), mitologia sumeriana, aparece a figura de Lilith, uma prostituta vampírica. Esta personagem passou aos hebreus no período de sua escravidão pelos sumérios. O Talmude (principal texto judaico) a descreve como primeira mulher de Adão.
Na Índia, uma das mais importantes divindades de sua mitologia, Kali, era conhecida entre outras coisas por sua sede de sangue humano.
Na antiguidade grega existe o relato de Lamia, segundo mitologia ela era a rainha da Libia e teve vários filhos com Zeus. Para se vingar, Hera, mulher de Zeus, matou todos os filhos da traidora e privou-a de fechar os olhos para que pudesse ver seus filhos mortos. Zeus apiedou-se dela e permitiu que pudesse retirar os olhos quando quisesse. Não podendo se vingar de Hera, Lamia passou a habitar em uma caverna, matar e se alimentar da carne e sangue dos filhos das mulheres humanas.
As estórias de vampiros migraram do Oriente para o Ocidente, junto com a rota da seda e encontraram terreno muito fértil nos Cárpatos, especialmente na Transilvânia e Valáquia, onde assumiu alguns nomes locais , tais como vurcuac e wanpyr. Nesta região as estórias de vampiros se multiplicaram dando diversas características próprias que subsistem nos mitos até nossos dias. Duas crenças nascidas na Europa Oriental marcam este personagem fantástico. A primeira é o fato de um espírito do mal poder se apoderar de um cadáver e utilizá-lo para seus desígnios malévolos; segundo que uma alma excluída, pelos seus crimes, do reino dos mortos, pode voltar a habitar seu próprio corpo, na forma de um vampiro.
A mitologia do vampiro é extremamente pormenorizada, com muitos detalhes que variam de região para região. Na Transilvânia (parte da atual Romênia), o vampiro possui características facilmente reconhecíveis, tais como a pele extremamente empalidecida, lábios vermelhos e grossos, caninos proeminentes e pontiagudos, unhas longas como garras e mãos peludas. Completa a figura, uma dieta de sangue, hálito ruim e uma força sobre-humana.
As características dos vampiros variam segundo a mitologia de cada região. Por exemplo, na Bulgária eles possuíam apenas uma narina; na Rússia, teria sido um bruxo em vida e tem um rosto vermelho; da Albânia usava sapatos de salto alto; no Brasil e em outros países sul-americanos, possui pés felpudos que permite andar sem ser ouvido, é o chupa-cabras.
ERYTHROPOIETIC PROTOPORPHYRIA
Há alguma coisa de científico que, no imaginário popular, pode justificar a existência de vampiros. Durante a Idade Média, o casamento consaguíneo entre nobres era uma prática comum na Europa Oriental. Esta maneira de fechar o círculo da nobreza fez aparecer diversas anomalias genéticas, entre elas está a Protoporfiria. Esta doença foi descrita pela primeira vez por Hipócrates (de Cos), 460 a.c. a 370 a.c., mas foi só no século XIX que o médico Felix Hoppe-Seyler formulou a primeira explicação bioquímica para a doença. As pessoas acometidas deste mal normalmente tinham poucos anos de vida. Suas principais características são a vermelhidão da pele, dentes e olhos, além de um recuo nos lábios superiores e rachaduras sanguinolentas na pele quando exposta ao Sol. No século XVIII acreditava-se que a vida do enfermo poderia ser prolongada mantendo-o recluso e abrigado da luz solar, bem como fornecendo-lhe uma dieta de sangue para compensar as perdas do mesmo. Com estas características não é de se admirar que eles fossem associados com os seres sugadores de sangue de hábitos noturnos, ou seja, vampiros.
O CINEMA
Como todos os romances de sucesso, Drácula foi muito explorado pelo cinema. O tema deu um impulso extraordinário na carreira cinematográfica de Christopher Lee que encenou o tema original de Bram Stoker em 1958 sob o título “Horror of Dracula”. A partir daí encenou diversas variantes do tema em vários filmes até 1978. Sendo mundialmente reconhecido como o Conde Drácula.
Aos apaixonados por clássicos do cinema, recomenda-se uma obra mais recente (1992) “Drácula, loves never dies”, onde Keanu Reever encena o protagonista da narrativa de Bram Stoker, Jonathan Harker e é tido como a obra cinematográfica mais fiel ao romance. Então, leia, assista e divirta-se!
Oii, seu blog é ótimo, estou começando um agora, se puder dar uma lida na nossa estória e comentar lá o que achou ficaríamos agradecidos. http://fictionletterss.blogspot.com.br/
ResponderExcluirAdoro esse tema! Eu sempre fui fascinado pela mitologia sobre os vampiros ❤️ Há alguns dias eu vi um filme sobre isso chamado Anjos da Noite: Guerras de Sangue Legendado Se você é um fã de vampiros, este filme será um dos seus favoritos e você vai querer vê-lo novamente! Poucos seres fantásticos são tão interessantes quanto os vampiros, estes são seres sedutores e misteriosos.
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