terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

OS CONSPIRADORES DA OPERAÇÃO VALQUÍRIA


         O dia 20 de julho de 1944 marcou o décimo quinto e último atentado contra a vida de Adolf Hitler, mas especialmente marcou o fim de um movimento que poderia ter salvado da humilhação uma Alemanha que seguia inexorável para uma derrota catastrófica militar, econômica e moral. Se por um lado ficava claro que uma parcela dos militares e políticos não compactuava com os pensamentos e procedimentos da Alemanha Nazista e, ainda, que esta parcela tentava minar o regime. Por outro lado, despertou a ira incontrolável de Hitler e muitos de seus seguidores, promovendo uma verdadeira caça às bruxas. Assim, no final, mais de 200 pessoas haviam sido executadas (muitas sem julgamento) acusadas de conspiração. A sobrevivência milagrosa de Adolf Hitler neste atentado reforçou a sua crença na interferência Divina para a consecução de seus desígnios. Desta forma, a Alemanha caminhou a passos largos para a maior derrota moral já sofrida por um país, pois, vencida, seu povo e governo nazistas tiverem de enfrentar de “olhos abertos” toda a iniquidade que cometeram ou deixaram cometer.
                Deste episódio emergiria para história um nome quase desconhecido, mas que seria o pivô, ou o executor final do atentado e coordenador do Golpe de Estado que devia derrubar o Regime Nazista, o conde coronel Claus Von Stauffenberg.

O FIM DE UMA CARREIRA MILITAR E INÍCIO DE UMA  CONSPIRAÇÃO
                Stauffenberg fez uma brilhante carreira no exército e chegou ao posto de tenente-coronel à 1º de janeiro de 1943. O Comandante-Chefe do Exército, Coronel-General Kurt Zeitzler ficou bastante impressionado com a ficha deste militar e, vislumbrando uma promissora carreia de generalato, quis que ele adquirisse experiência como oficial de Estado-Maior e Comando. Por isso resolveu enviá-lo para Tunísia. A campanha na África estava quase encerrada; a supremacia aérea adquirida pelos Aliados pouco permitia que as tropas alemãs se locomovessem, mesmo assim seria um bom local para se ganhar experiência de combate.
                Claus von Stauffenberg foi designado como oficial de Estado-Maior Sênior (Operações) da 10º Divisão Blindada (Panzer), cujo comandante era o General-de-Divisão Von Broich. No dia 7 de abril de 1943, empreenderam uma viagem de Tunis para os seus novos postos. Ao atravessar uma grande planície descoberta, os veículos foram atacados por cerca de 20 caças aliados. Neste ataque Stauffenberg ficou gravemente ferido. Inicialmente foi transportado para o hospital de Cártago e daí para Munique.
Stauffenberg com três dos seus cinco filhos
                Recuperando-se dos ferimentos, Stauffenberg teve como sequelas a amputação da mão direita, dois dedos da mão esquerda, além de perder o olho direito. Mesmo assim estava disposto a voltar à ativa. Ao que parece, este período (de reabilitação) foi decisivo para que ele compreendesse que estava reservado algo mais para sua “história” pessoal. Influenciado inicialmente por seu tio, Conde Von Üxkuüll, que se esforçava para atraí-lo para o lado dos conspiradores e finalmente a oferta do Departamento de Pessoal do Exército para que ele aceitasse o posto de Chefe de Estado-Maior do Allgemeine Heeresamt – Departamento do Exército Geral. Nesta posição, seu chefe direto seria o general Friedrich Olbrich, o que seu tio lhe informara que recentemente passara a membro ativo da Conspiração. Como chefe da Allgemeine Heeresamt, Olbrich era o representante pessoal, no OKW – Alto-Comando da Wermach, do Comandante-em-Chefe do Exército de Reserva, Fritz Fromm, portanto desfrutando de certa autonomia sobre as tropas estacionadas dentro do Reich para fins de guarnição e reposição.
                Ao aceitar o cargo, Stauffenberg aceitava irremediavelmente trabalhar em prol da Conspiração.
Olbrich

OPERAÇÃO VALQUÍRIA
                Sob o título de Operação Valquíria residia o plano de contingência do Regime Nazista autorizado por Adolf Hitler, ou seja, orientações e ordens para mobilização da grande massa do Exército de Reserva que, ao ser acionado, deveria rapidamente tomar e defender todos os pontos sensíveis do Reich, especialmente Berlim. Seria ativado, por exemplo, caso os Aliados chegassem às portas da Capital.
                Os conspiradores tinha duas grandes barreiras a vencer; a primeira delas eram a grande quantidade de tropas SS, extremamente fiéis ao Regime Nazista. Vencer estas tropas com um punhado de conspiradores eram impossível! O outro obstáculo era o juramento pessoal que todos os militares do Exército fizeram à Adolf Hitler. O juramento solene realizado em agosto de 1934 fazia com que os militares tivessem como ponto de honra a lealdade ao Führer. Esperar que neste momento os militares não se sentissem desonrados e sem palavra por quebrar o juramento não era factível; a grande maioria manteria sua palavra até que o regime estivesse substituído de fato.
                O planejamento da conspiração para o golpe político/ militar foi simplesmente brilhante. O primeiro ato seria o assassinato de Adolf Hitler e de seus principais asseclas. Era fator crítico também a morte de Goering e Himmler; depois passou a fator desejável e acabou não sendo cumprido. Confirmada a morte de Hitler disparava-se a Operação Valquíria sob a alegação de um Golpe de Estado comandado pela SS, desta maneira o Exército de Reserva atacaria e prenderia todas as tropas das SS, expurgando-as definitivamente do Reich. Os principais líderes das SS deveriam ser executados sumariamente. Ao mesmo tempo em que o Exército de Reserva entrava em ação, um grupo de políticos e militares assumiam o governo. Sob novo regime a Alemanha faria a paz com os Aliados e evitaria a humilhação da derrota e tentaria se redimir perante a humanidade, dos terríveis crimes cometidos pelo regime deposto.
                A tarefa de assassinar Adolf Hitler, Stauffenberg tomara para si e ocorreria em uma das reuniões para tratar de assuntos estratégicos que eram realizadas, com certa frequência, no QG da Floresta Negra, Rastenburg - a Toca do Lobo.

O ATENTADO
                Stauffenberg levaria duas bombas de explosivo plástico com uma espoleta de retardo que daria de 7 a 10 minutos para a explosão depois de acionada. Duas tentativas foram feitas nos dias 11 e 15 de julho em reuniões ocorridas em Rastenburg. Contudo ambas as tentativas foram abortadas devido ao fato de que nem Goering, nem Himmler estarem presentes na primeira e Himmler estar ausente da segunda, Stauffenberg saiu para realizar um telefonema para decidir se prosseguiria com o atentado e ao retornar a reunião estava terminada.
                No dia 20 de julho, data marcada para a próxima reunião em Rastenberg, Stauffenberg e seu assistente, o tenente Werner Von Haeften, viajaram cedo para lá, num voo de quase três horas de duração partindo de Rangsdorf, sul de Berlim. Ao chegar no seu destino, deu ordens para o piloto esperar pronto para a decolagem imediata logo após ao meio-dia. O restante da viagem, 12 Km, foi feito de carro. O QG de Hitler era protegido por campo minado e cercas de arame farpado, algumas eletrificadas. Haviam três postos de verificação para a entrada. Dentro do campo de Rastenberg, o chefe das comunicações, Fellgiebel, informaria a Olbrich do sucesso da missão e depois cortaria as comunicações de forma a isolar o QG do resto do mundo.
                A conferência, marcada para as 13 horas, foi antecipada para às 12:30h devido à visita de Mussolini que ocorreria no início daquela tarde, o que, embora causasse apreensão, não alterava os planos.
                Um imponderável comprometeria toda a operação: de última hora, devido ao calor, a reunião fora transferida para a sala de mapas ao invés do bunker como normalmente ocorria. O bunker de Hitler, construído em concreto capaz de resistir a um bombardeio, potencializaria os efeitos da explosão, ao contrário da sala de mapas, construída em madeira.
                Às 12:30h, com a desculpa de ter deixado o cinto e o quepe na ante-sala, Stauffenberg teve um instante a só e ativou a bomba. Desculpou-se pelo atraso e se aproximou o mais que possível de Hitler. Do lado de fora Haeften o aguadava com a bomba reserva junto ao carro e o motorista.
                Stauffenberg se desculpa novamente por ter que atender a um telefonema urgente de Berlim e sai da sala. A mala com a bomba foi deixada próximo ao pé da mesa, apenas duas pessoas separam a bomba de Hitler. Neste momento o general Brandt sente a pasta incomodar em seu pé e a empurra mais para debaixo da mesa. Ao fazer isso, a pasta passa a ter o pé da mesa, uma pesada placa de madeira sólida, como anteparo entre a bomba e Hitler.
                Stauffenberg mal sai da sala de mapas e a explosão ocorre, parecendo não ter deixado ninguém vivo dentro lá dentro. A partir daí, e diante de tamanha confusão, empreende a sua fuga de volta para o campo de pouso. A confusão ocasionada foi tão grande que nem o alarme de emergências foi acionado. Assim passou com facilidade pelos três postos de segurança. Stauffenberg e seu ajudante, acreditando na morte de Hitler voou de volta para Berlim a fim de coordenar o Golpe de Estado. Ele esperava que a Operação Valquíria estivesse em pleno andamento.
Goering inspeciona a sala após a explosão

Calça de Hitler exposta como relíquia para fotografia 
          A pequena alteração na posição da bomba reduziu bastante o efeito da explosão, ainda assim matou o general Brandt, o general Korten, o general Schmundt e um estenógrafo, além de ter ferido gravemente duas outras pessoas. Hitler sofreu algumas escoriações, uma paralisia temporária no braço direito, os dois tímpanos foram afetados e seus cabelos queimados.

O GOLPE
                No Ministério da Guerra, em Berlim, a Operação Valquíria ainda não havia sido iniciada, pois as informações eram confusas e não se tinha certeza de que Hitler estava morto. Stauffenberg pousou em Berlim por volta das 16h e não havia qualquer viatura esperando ele. Depois de telefonar para o Ministério, um carro foi buscá-lo e iniciou-se a mobilização da Operação Valquíria, com cerca de três horas de atraso.
     Foram enviadas mensagens informando que o Führer Adolf Hitler estava morto e que deveriam iniciar imediatamente a mobilização do Exército da Reserva do Reich, pois um Golpe de Estado dirigido pela SS estava em andamento.
Chegando ao Ministério, juntou-se a Olbrich, que ainda esperava que Fromm, Comandante-em-Chefe do Exército de Reserva, assinasse a ordem. Este havia sido informado previamente da conspiração, mas só aceitara participar caso fossem indubitavelmente vitoriosa e Hitler estivesse morto, caso contrário manteria sua posição de partidário do nazismo. Ao interpelarem Fromm, este os informou que havia falado com Keitel, Chefe do Alto-Comando do Exército, e que de Rastenburg transmitia que Hitler só havia sido ferido levemente (o que era verdade); completando-se o diálogo, Fromm afirmou que o golpe falhou e que eles deveriam se matar e, ainda, deu ordem de prisão para ambos. Contudo Fromm é que foi preso.
Fromm

                No seu lugar assumiu o conspirador general Hoepner como Comandante do Exército da Reserva.


                O Golpe começava a funcionar e centenas de prisões de SS ocorriam a todo o momento. A função de tomar o setor governamental de Berlim estava com o regimento de guarda de elite do Exército, Wachtbataillon Grossdeutsschland. Esta unidade estava sob o comando do Major Otto Ernest Remer, que naquela tarde confusa em Berlim suspeitou estar sendo usado involuntariamente para um golpe. Diante disso dirigiu-se irritadamente e de pistola em punho para o Ministério da Propaganda e exigiu ser atendido imediatamente pelo Ministro, Joseph Goebbels. Astuto, Geobbels lhe disse que a única autoridade numa situação desta é o próprio Führer e o colocou, em segundos, na linha com Hitler. Remer reconheceu a voz de seu Führer que o promoveu imediatamente a coronel e o colocou sob as ordens de Himmler que agora era o novo Comandante-Chefe do Exército Metropolitano (Fromm fora destituído, mas não sabia ainda). Neste momento fracassava o golpe de estado e iniciava o contra-golpe.
                Pouco-a-pouco os militares se informavam do ocorrido e que Hitler estava vivo, engrossando novamente as fileiras nazistas. O Ministério da Guerra se esvaziava e os conspiradores tentavam salvar suas vidas ou punham fim a elas de imediato.

ÚLTIMO ATO
                Fromm para tentar apagar seu envolvimento, embora pouco, com a conspiração providenciou para que os principais conspiradores que haviam sido presos, entre eles Stauffenberg, fossem executados sumariamente. Foram executados por fuzilamento no pátio do Ministério da Guerra, o general Olbrich, o coronel Stauffenberg, o coronel Mertz e o tenente Haeften. Estes foram mais felizes, pois a ordem de Hitler era para que todos fossem capturados com vida para serem julgados por alta traição e executados por enforcamento com corda de piano, a fim de tornar suas mortes o mais terrível possível.
                Deu início a "caça às bruxas", mais de 7.000 pessoas foram interrogadas a fim de se levantar o envolvimento com a conspiração. Todas as pessoas de sobrenome Stauffenberg foram presas, interrogadas e torturadas, inclusive crianças.
                Erwin Rommel um dos generais mais notáveis, que fez grande fama na campanha da África do Norte, estava diretamente ligado à conspiração. Seu envolvimento não podia vir a público, portanto lhe foi transmitida a ordem de Hitler para que se suicidasse. Para proteger sua família, cumpriu.
                A 7 de agosto iniciaram-se as sessões do Tribunal Popular para julgar os acusados. Presidido por Roland Freisler, o tribunal adotou uma postura punitiva e desdenhosa para vingar Hitler. Os acusados foram incansavelmente humilhados durante as sessões. Muitos prisioneiros foram torturados descaradamente; a maioria ficou acorrentada nas celas e impedido de dormir. Eram submetidos a interrogatórios prolongados a qualquer hora do dia ou da noite. No final, sob a pesada ira de Hitler, pelo menos 200 pessoas foram executadas.

NO CINEMA
                Em 2008 foi lançado com o nome Valkyrie (no Brasil com o nome Operação Valquíria), o filme dirigido por Bryan Singer que retrata toda a trama que envolveu os preparativos para a conspiração que mataria Adolf Hitler e derrubaria o Regime Nazista. O papel principal, representando Stauffenberg, é interpretado por Tom Cruise. Entre o elenco estão Kenneth Branagh, Bill Nighty e Tom Wilkinson.
                O filme é marcado pelo rigor histórico, sem romantização desnecessária. Ótima fonte de estudo, além de ter uma sequência agradável e dramatização na medida certa. Vale a pena assistir!

11 comentários:

  1. Fantástico Post. Parabéns!

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  2. Fantastico!!!!!!!!!!!!!

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  3. Stauffenberg foi e continua sendo o Herói da Alemanha. Enfrentou a tudo e a todos por amor à sua Nação!

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  4. parabems a este homem (Stauffenberg)que lutou com coragem para defender alemanha de um monstro que era chamado de (Führer.)absurdo Hitler,ele sim tinha de ser inforcado com corda de piano e jogado aos porcos ,cretino ,canalha e assassino ,quanto ao filme parabems fantastico!!!!!!!!!

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  5. parabéns, ótimo, fiel e detalhado relato.

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  6. Excelente post, meus sinceros parabéns!

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  7. HITLER FOI A PERSONIFICAÇÃO DO DIABO!!!

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  8. Q bom q esse governo ditador chegou ao fim ,infelizmente com muitas mortes tristes e violentas,mas felsmente pessoas corajosas e compassivas puseram suas vidas e de suas familiares na linha de frente para q o pesadelo nasista tesse fim

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  9. Parabéns pelo post. Sou Escritor de ficção, e escrevi um livro com 562 p.com o título: "Os clones de Hitler, e a revanche de Stauffenberg. No retorno do III Reich". _ Maurício Krafix.

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