sábado, 10 de outubro de 2009

SENADOR JOSÉ MARTINIANO DE ALENCAR


       Você certamente já ouviu falar o nome José de Alencar, mais precisamente José Martiniano Pereira de Alencar. É normal que, ao ouvir este nome, lembremos do escritor homônimo. No entanto, gostaria de traçar alguma linhas sobre seu pai, o Senador José de Alencar, um grande expoente da Política do Império.
            Filho do comerciante português José Gonçalves dos Santos e de Bárbara Pereira de Alencar, a Heroína do Crato, Alencar nasceu em 16 de outubro de 1794 no vilarejo de Barbalha pertencente à vila, depois cidade, do Crato no Ceará. Ainda jovem foi enviado por seus pais para  Pernambuco a fim de ingressar no seminário de Olinda como diácono. A seis de março de 1817 estourou a Revolução em Recife, sob forte viés independentista, republicano e anti-lusitano. José de Alencar, então estudante do Curso de Retórica, destacou-se como líder e foi logo admitido na Academia Paraíso, agremiação criada para expandir a revolução e servir como guia ideológico do movimento. Com a deposição do Governador, Caetano Pinto de Miranda, o Governo Provisório da província achou por bem enviá-lo ao Ceará para expandir a revolução. Chegou ao Crato a 30 de abril e, por ter grande aceitabilidade as idéias que trazia, em três de maio proclamou naquela cidade a adesão ao movimento republicano de Pernambucano. Contudo a alegria que tomou conta da população naquele dia logo se transformou em medo e pesar por terem aderido a tão ariscada empreitada. Rumores de que o movimento havia sido destroçado no Rio Grande do Norte e Pernambuco logo se espalharam e fizeram os adeptos se retirarem com medo da represália. Esvaziado o movimento no Crato, José de Alencar, seus irmãos, sua mãe, D. Bárbara, e, ainda, uns poucos seguidores foram presos. Enviados para a prisão em Fortaleza, Recife e, em fim, Salvador. Aí permaneceram por quatro anos, mas em melhores condições que seus patrícios revolucionários de Pernambuco, condenados a morte pelas Juntas Militares.
            Em 1820, novas turbulências agitaram a política luso-brasileira, em Portugal estoura a Revolução Liberal do Porto. Uma constituição foi jurada em Portugal. Em 1821 constituiu-se na Bahia uma Junta Provisória de Governo, aceitando-se assim a Constituição Portuguesa. Diante dos novos ares, determinou-se a nulidade da devassa sobre a Revolução de 1817 e soltura de todos os presos políticos. Com isso a família Alencar pode retornar em liberdade para o Crato.
O cenário político mudou, com a Revolução do Porto, D. João VI foi obrigado a retornar para Portugal e jurar a Constituição, seu filho D. Pedro permaneceu no Brasil como Regente. Convocaram-se eleições gerais (24 de dezembro de 1821) para representantes de todas as províncias dos domínios lusitanos. Assim, José de Alencar foi eleito, em dezembro, 1º suplente do deputado às Cortes Portuguesas pela província do Ceará. Como o titular não pode assumir por motivo de doença, seguiu ele para Lisboa e assumiu o cargo.
O que parecia ser um processo de maior liberdade para as províncias das colônias, na verdade se revelou um instrumento de maior dominação colonial. Dessa forma, em 1822, Alencar entrou em embate direto contra a política lusa e se recusou a assinar a Carta Magna Portuguesa. Perseguido, fugiu para a Inglaterra e daí para o Brasil. A sete de setembro o Brasil se separou de Portugal e o Regente D. Pedro passa a condição de Imperador, D. Pedro I. Em 16 de outubro deste ano, Alencar foi eleito deputado constituinte pelo Ceará. No Rio de Janeiro, com Deputado constituinte (1823), fez oposição a D. Pedro I. O Imperador dissolveu a constituinte. Voltando para o Ceará, em 1824, deteve-se dois meses em Pernambuco e seguiu em fevereiro para o Ceará.
Em Pernambuco a reação contra os últimos acontecimentos na Corte traduziu-se na Confederação do Equador, movimento de caráter separatista e republicano que reagia contra a tendência absolutista de D. Pedro I, expressa na constituição outorgada naquele ano. O Governador de Pernambuco, Paes Barreto, renunciou diante das pressões liberais e foi eleito Paes de Andrede como Governador desta província (eleição ilegal, pois os governadores eram designados pelo Imperador). Paes de Andrade proclamou a independência da República de Pernambuco e convidou as demais províncias do Norte e Nordeste para aderirem à chamada Confederação do Equador. Apenas parte da Província do Ceará aderiu ao movimento. José de Alencar tomou parte no movimento e foi eleito deputado pela nova república. O movimento em Pernambuco foi fortemente reprimido pelo Império que enviou uma divisão naval comandada pelo Lorde Cochrane e os revoltosos foram derrotados em apenas 54 dias. Diante desta situação, José de Alencar, para salvar sua vida, retornou para o Rio de Janeiro e redigiu uma extensa Súplica ao Imperador. Ao chegar ao Rio foi recolhido à Fortaleza de Santa Cruz e, em dezembro de 1825, levado a capital para responder perante a Comissão Militar. O Imperador atendeu à súplica de Alencar e o absolveu, permitindo-o retornar para sua província natal.
            No ano de 1829 nasceu seu filho que viria a ser um dos mais famosos escritores de nossa literatura. Em 1830, Alencar foi eleito deputado para a Assembléia Geral Legislativa (30 – 32) e em 1832 foi eleito senador pela província do Ceará.
José de Alencar, um liberal ex-republicano, tornou-se uma figura extremamente influente na política nacional, gozando de incômodo prestígio junto ao Governo Regencial.
            Em 1834 foi nomeado presidente da Província do Ceará, função que exerceu de 06.10.1834 a 25.11.1837. Durante este conturbado período regencial, diversas revoltas ocorreram por todo país como a Cabanagem, no Pará, Sabinada, na Bahia, a Balaiada, no Maranhão e a Farroupilha no Rio Grande do Sul; no Ceará as coisas não eram diferentes, mas com pulsos fortes combateu o banditismo e o tráfego de escravos. Também fundou a primeira escola normal e incentivou a imigração de colonos europeus, além de inaugurar o porto de Mucuripe e o Banco da Província do Ceará, o segundo banco do país. Voltou ao Senado em 1838, onde opôs-se ao novo Regente (Pedro de Araújo Lima).
            No Rio de Janeiro fundou a “Sociedade Protetora da Maioridade” de D. Pedro II e foi um dos principais articuladores do Golpe da Maioridade do Segundo Imperador do Brasil, levando os liberais ao poder. Após a assunção do Ministério da Maioridade, retornou ao Ceará como Presidente da província pela segunda vez. Com carta Imperial de 10 de setembro de 1840, assumiu o governo em 20 de outubro. Pouco tempo depois, com a queda do Ministério da Maioridade, José de Alencar se demitiu, a seis de abril de 1841, e voltou a atuar como senador vitalício pelo Ceará.
            Sua brilhante carreira política só se encerrou com a sua morte em 15 de março de 1860, ano em que seu filho, o escritor José de Alencar, foi eleito deputado pelo Partido Conservador.

2 comentários:

  1. Há um erro, o regente em 1838 não era mais Feijó, que renunciou em 19 de setembro de 1837, mas o pernambucano Pedro de Araújo Lima.

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