sábado, 20 de março de 2010

SHOEMAKER-LEVY 9 E O FIM DA HISTÓRIA



                A definição de história está ligada diretamente à existência da humanidade e a capacidade do homem em registrar, por escrito, os fatos e feitos de relevância de sua caminhada pela vida. Pensando assim, um fato astronômico, ocorrido a bilhões de quilômetros de distância da Terra poderia ser considerado como fato histórico? Bem, o cometa Schomaker-Levy 9 demonstrou que um astro distante pode sim ser parte da história. Pior, demonstrou que pode ser o próprio fim da história!

BOMBARDEIO ESPACIAL
                Desde a invenção do telescópio o homem não se cansa de olhar para o céu durante a noite; quem sabe, a procurar uma explicação para sua existência? Desde as primeiras observações a Lua sempre despertou grande interesse, pois nosso satélite natural é o astro mais próximo da Terra. É notória a diferença da superfície lunar e a da Terra. Enquanto que nossa superfície apresenta poucas variações de altura, sendo bastante “lisa”, a Lua apresenta uma superfície repleta de crateras dos mais variados tamanhos. Este fato até a década de 60 se explicava pela intensa atividade vulcânica que existira na Lua do passado, deixando para a Lua da atualidade uma superfície marcada por vulcões extintos. Depois da década de 60, esta teoria caiu totalmente por terra, pois se descobriu que as crateras da Lua eram mesmo o resultado de impactos de prolongado bombardeamento por pequenos corpos que vagam pelo espaço até se chocarem com nosso satélite natural.
                Pois bem, a questão que surgiu então era: por que a Lua sofreu intenso bombardeio durante milhões de anos e a Terra não, já que nosso planeta é muito maior e a Lua está muito próxima? A resposta é simples, a Terra sempre sofreu este bombardeio e com maior intensidade, já que é um astro maior. O que ocorre é que nosso planeta possui atmosfera, ou seja, uma grande camada de gases que se movimenta o tempo todo. Isto faz o efeito de uma lixa na superfície, desmontando as crateras e “alisando” toda a superfície. Isto sem falar na água que cobre cerca de dois terços do planeta.
                Esta conclusão durante a década de 60 chamou a atenção dos cientistas para o perigo de uma colisão com um astro desgovernado de dimensões consideráveis. Mediu-se as forças de impactos de vários possíveis astros de pequenas dimensões e chegou-se a conclusão que a energia liberada por um impacto de um asteróide de pequenas dimensões viajando a milhares de quilômetros por hora seria o suficiente para destruir o planeta ou, pelo menos, extinguir a vida. Tais temores tem sido aplacado nos últimos anos pelo fato de que o homem habita a Terra há mais de 30.000 anos e nunca presenciou um cataclismo desta magnitude. Talvez sejam necessários mais alguns milhões de anos para que isto ocorra.

UMA DESCOBERTA INTRESSANTE
                Na noite de 24 de março de 1993 Carolyn e Eugen Schoemaker observavam o céu por um telescópio Schmidt de 40 cm (de lente). A noite não parecia ser muito promissora pois algumas nuvens encobriam esporadicamente o céu em Monte Palomar, na California. Apenas algumas imagens foram capturadas naquela noite. Contudo, Carolyn ao analisar uma das imagens, identificou algo que não estava lá no céu antes. Parecia um asteróide ou cometa que explodira e se fragmentara em várias partes que mantinham um deslocamento como uma fileira ou um trem. Logo o casal entrou em contato com o amigo e colaborador, também astrônomo, David Levy. Este confirmou o achado. Era um grande cometa que se fragmentara e estava viajando no espaço como um trem com vários vagões.
                O cometa que passou a se chamar Schoemaker-Levy 9 despertou uma grande curiosidade na comunidade científica, pois em 5 de abril, depois de diversas observação para identificar a órbita do cometa, descobriu-se que o mesmo estava orbitando Júpiter. Era a primeira vez que se identificava um cometa orbitando um planeta.
                Fazendo-se um retrospecto da órbita do cometa, descobriu-se que ele fora capturado pelo planeta a cerca de 20 ou 30 anos. O cometa descrevia uma órbita de cerca de dois anos para completar sua trajetória em torno de Júpiter. Recentemente quando passou pelo ponto mais próximo da superfície do planeta, provavelmente em julho de 1992, a força gravitacional do gigantesco planeta o destroçou em cerca de 21 fragmentos. Mantendo-os numa forma alongada em sua trajetória orbital.
                No dia 25 de maio de 1993 descobriu-se que o cometa Schoemaker-Levy 9 estava descrevendo uma órbita descendente em direção a Júpiter e provavelmente se chocaria com o planeta em julho do ano seguinte. Em junho de 1993 veio a confirmação: haveria a colisão dos astros!

 A COLISÃO
                A notícia inicialmente não causou muito impacto, pois um cometa colidindo com um planeta gigantesco como júpiter, que além do mais possui uma densa camada de gases. Provavelmente ele sumiria na atmosfera e nada seria visto.
                Contudo a medida que os cálculos se confirmavam (massa, velocidade, energia liberada no impacto, etc), mais se tinha certeza de que haveria algo muito grande acontecendo muito próximo de nosso planeta.
                Cientistas do mundo todo acompanharam ansiosamente os últimos momentos do cometa até o seu impacto com Júpiter. Todas as mais poderosas lentes foram direcionadas para Júpiter, inclusive o Telescópio Espacial Hubble, o ROSAT X-RAY e a nave Galileo.
                Com uma velocidade de 60 Km/s o primeiro fragmento (A) atingiu Júpiter às 20:13h (UTC) do dia 16 de julho de 1994. Os instrumentos do Galileo detectaram uma bola de fogo que atingiu 24.000K (a temperatura normal da superfície é de 130K). Logo após o primeiro impacto, uma grande mancha escura ficou visível na atmosfera, decorrente do material expelido da superfície.
                Durante seis dias observou-se os 21 distintos impactos na superfície do planeta. No dia 18 de julho, o fragmento G (o maior), além de proporcionar um aterrador espetáculo com sua onda de choque, também produziu uma gigantesca mancha escura de cerca de 12.000 Km de diâmetro. Este impacto produziu o efeito equivalente a 6 trilhões de toneladas de TNT. No dia 19 (12 horas depois), ocorreram dois outros impactos de aproximadamente mesma intensidade. O último impacto foi no dia 22. A bola de fogo causada pela onda de choque do fragmento G, sozinha, conteria todo o planeta Terra.
                Estarrecidos, todos os observadores concordam que nosso pequeno e indefeso planeta não teria resistido a tal bombardeio.
Imagem da colisão do fragmento G

O DESPERTAR
                A colisão do cometa Schoemaker-Levy 9 não foi apenas um espetáculo inusitado observado pela humanidade. Foi, na verdade, um aviso! Se antes perguntávamos se poderíamos ser atingidos por algum astro, agora a pergunta é: Quando seremos? Deste questionamento, uma nova linha de pensamento surgiu entre os cientistas e líderes políticos. Devemos estar preparados para nos defender de um cataclismo deste tipo. O programa espacial de muitos países, principalmente dos EEUU, que estava adormecido já há algumas décadas, começou a ser despertado. Novas técnicas estão sendo pensadas. Se não pudermos destruir um astro descontrolado em nossa direção, pelo menos, deveremos ter condições de desviar a sua trajetória. Telescópios espaciais, como o Hubbler, distribuídos em diversas direções de nossa galáxia podem dar o alerta antecipado, garantindo o tempo precioso para os preparativos.
                Deste episódio a humanidade pode aprender a lição de sobrevivência espacial. Devemos nos preparar desde já, pois é melhor investir bilhões em uma tecnologia que só será utilizada daqui a muito tempo, do que ser pego de surpresa, pois neste caso só nos restará aguardar o impacto! 
Efeitos do impacto do fragmento G
Os efeitos dos impactos foram vistos por vários meses na atmosfera de Júpter.

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