(Marco Túlio Freire Baptista e Andrea da Conceição)
PORQUÊ MACEDÔNIO?
O
autor de Museu do Romance da Eterna, Macedonio
Fernández, argentino, portenho, nasceu no final do século XIX, 1874, mas, após
uma carreira advocatícia, despertou para a necessidade de dar fim à cultura
finisecular, ou, pelo menos, espetá-la, torcê-la, subvertê-la!
Macedonio,
filho de uma família abastada, de Macedônio Fernandes (fazendeiro e militar) e
Rosa del Mazo Aguilar, teve grande oportunidade para se dedicar, em
determinados momentos, a longas reflexões. Estudou na Escola Nacional Central, onde
também estudaram muitas outras grandes personalidades da Argentina. Ingressou
na faculdade de Direito e Ciências Sociais em 1892 da UBA (Universidade de Buenos
Aires), onde manteve contato com a Psicologia e a Filosofia, em especial, a Metafísica. Já
nessa época iniciou suas publicações de artigos e ensaios em periódicos de
caráter científico. Também pela UBA recebeu o título de Doutor em
Jurisprudência. Macedonio encaixava-se no perfil da elite dirigente de livres
pensadores e anarquistas, perfeitamente antenado nos acontecimentos e movimentos
mundiais. Ligado intimamente a Jorge Guilhermo Borges (pais de Jorge Luis
Borges), dividiram estudos sobre a filosofia de Arthur Schopenhauer. Destaca-se
também, no seu círculo de amizades, as convicções sobre a obra de Herbert
Spencer (1820-1903), forte opositor dos governos militares e ditaduras (ABRÊU,
2014).
Nesse
aspecto, logo cedo demonstrou seu interesse pelas questões político-sociais e a
busca por soluções:
Depois
de formado, ele (Macedonio) e outros colegas, entusiastas do ideário socialista
romântico, inspirado em Lasalle e Saint-Simon, tentaram estabelecer uma
comunidade utópica e anarquista numa ilha selvagem do Paraguai — em terras
pertencentes à família Molina y Vedia —, primeira evidência do interesse
candente pela atividade política (MICELE apud ABRÊU, 2014).
Entre 1928 e 1952, Macedonio
publicou apenas cinco livros, os quais foram muito celebrados por seus amigos,
porém ignorados pelo público leitor. No entanto, sua singularidade era evidente
e seus manuscritos se transformaram em livros, quase todos depois de sua morte
e por esforço de seu filho Adolfo Obieta (GARCÍA, 2000).
Macedonio Fernandes, advogado de
formação, acabou se descobrindo escritor, mas como ele mesmo percebe, seu
círculo de leitores ficou bastante restrito:
Como
no hallo nada sobresaliente que contar de mi vida, no me queda más que esto de
los nacimientos, pues ahora me ocurre otro: comienzo a ser autor. De la abogada
me he mudado, estoy recién entrado a la literatura y como ninguno de la
clientela mía judicial se vino conmigo, no tengo el primer lector todavía
(FERNANDES apud GARCÍA, 2000).
Certamente o círculo de leitores de
Macedônio era uma pequena, porém ativa intelectualidade. Seus livros não
parecem ter sido para causar sensação ao público comum, mas para sensibilizar
os grupos intelectuais, num sentido revolucionário de transformação de ideias.
Aliás, nesse sentido, sua influência talvez se fizesse mais pela suas palavras
faladas do que por seus escritos. Segundo Borges: "su. conversación era más importante que su
obra'' (BORGES apud GARCÍA, 2000). O que isso significa? Ou melhor, o que
significa isso dito sobre um escritor que influenciou Borges e toda a vanguarda
argentina? Talvez a resposta esteja no fato dele pertencer ao círculo íntimo da
elite literária, podendo expor suas ideias verbalmente, olho-no-olho e que, os
demais que as escrevam! Talvez ele mesmo se reconheça nas ideias “genuínas” dos
demais autores. Fato é que Macedonio acredita que não há ideias genuínas:
Uma
romena cantou um trecho de música do povo e depois encontrei dez vezes o trecho
em diferentes obras e autores dos últimos quatrocentos anos. É indubitável que
as coisas não começam; ou não começam quando são inventadas. Ou o mundo foi
inventado antigo. (FERNANDES, 2010; prólogo 4, § 2ᵒ)
Nesse aspecto, Macedonio foi criado
num lar propício para desenvolvimento de novas ideias, visto que a casa dos
Fernandez sempre foi lugar de reuniões de escritores, intelectuais e políticos,
o que teria deixado marcas em sua oratória, considerada inteligente e
brilhante, aliás muito alardeada no grupo altruísta que fizera parte nos anos
de 1920 (ABRÊU, 1914).
Em 1921, quando Jorge Luis Borges
retornou da Europa trazendo na sua bagagem a experiência do Ultraismo[1],
logo se colocou a fundar uma revista que agregasse novas tendências chamada Proa. Além de Macedonio Fernandes,
Borges também contou com Gonzáles Lanusa e Nora Borges (sua irmã e ilustradora
da revista). Foi nessa revista que os vanguardista argentinos encontraram
verdadeiro espaço para desenvolver seus pensamentos (D-REVISTAS, 2016).
Conforme Sánchez (1977) Borges
declarou no enterro de Macedonio que ele, Borges, o havia plagiado, mas que tal
afirmativa não era tão simples pois que Macedonio Fernandez havia influenciado
fortemente toda a vanguarda argentina, especialmente os portenhos e os
componentes das revistas Marin Ferro
e Proa.
Da mesma forma, movimentos como o criolismo e o proesperpentismo têm seus primeiros passos em Macedonio. Também o
autor espanhol, Ramón Gómez de la Serna, criador do gênero Gregerías, confessa que, na verdade, este gênero devia se chamar Macedonerías (SÁNCHEZ, 1977).
Outro motivo para Macedonio ser
eleito representante da vanguarda argentina é o ecletismo de sua obra. Seja
ensaio, artigo, romance ou conto, ele transita por gêneros variados e diversas
áreas do conhecimento, mas acaba num limite muito tênue entre a literatura e a
filosofia (ABRÊU, 2014). Enfim, é um autor completo e marcante para a vanguarda
argentina.
PORQUÊ O MUSEU DO ROMANCE DA ETERNA?
Dentre
as obras de Macedonio Fernandez, o Museu
do Romance da Eterna talvez seja o que mais impacto causou devido a mudança
de paradigma estético do gênero romance e a prolongada promessa de o publicar,
a qual só veio postumamente. Vale apena mencionar que, também na obra, o autor
posterga ao máximo o início do romance para o leitor, acrescentando cinquênta e
oito prólogos, uma nota pós-prólogo e duas observações antelivro. A
descontinuidade vertiginosa de sua obra está fortemente marcada também por
estes prólogos que foram redigidos em épocas diferentes e não estão numerados
segundo um critério cronológico.
A
duração da elaboração do livro, com muitas interrupções se estendeu desde o ano
de 1904 até o final de sua vida (1952), portanto é capaz de carregar em seu
bojo características de todo o período vanguardistas argentino, bem como as
mudanças, transformações, intenções e
teorias. De fato, é uma obra eclética que abarca diversos campos do
conhecimento, dentre eles a psicologia, a filosofia, a religião, a metafísica e
outros. E é capaz de exprimir o esforço teórico que seu autor desenvolveu por
quatro décadas no sentido de elaboração de algo novo, porém genuíno dentro do
pensamento literário latino-americano.
UM POUCO DE VANGUARDA
Jorge
Schwartz (1995) nos dá um bom panorama do que foram os movimentos de vanguarda
na América Latina. Muitos escritores que, no início do século, se aventuraram
pela Europa, acabaram por retornar aos lares latino-americanos durante a
Primeira Grande Guerra, recheados de ideias vanguardistas europeias, são os Ismos europeus. Estes
movimentos expressaram o esgotamento do modelo liberal e a incapacidade de
implantação dos princípios democráticos. Contudo estes Ismos foram assimilados de maneira criativa e adaptado às
realidades do subcontinente americano, iniciando um movimento peculiar, as
vanguardas da América Latina. Estas vanguardas assumiram feições
características predominantemente na década de 1910 e 1920, com algumas
variações temporais que, no entanto, marcam duas fases bem distintas: a
primeira fase é a estética, na qual se discutiu fortemente a linguagem. Nesse
bojo, toda a literatura finisecular foi colocada em cheque! A forma consagrada,
o realismo, foi subvertida para novo, o
inusitado, o latino americano! Uma segunda fase, foi marcada pela entrada em
cena das discussões de projetos ideológicos. Nesse sentido, comunismo,
socialismo e anarquismo foram movimentos que tenderam a se fundir com as
vanguardas, garantindo uma politização e um posicionamento perante o arcabouço
liberal.
Embora
estas vanguardas tenham, em sua maioria, encontrado seu ocaso no final da
década de 1920, seus ecos se fizeram ouvir nas décadas seguintes. A este
período sucedeu, por quase toda parte, um período de ditaduras baseadas em
golpes militares. Estes novos governos totalitários procuraram absorver as
vanguardas já que estas exerciam grande poder sobre as massas, principal alvo
de tais governos. Estas massas agora deveriam ser doutrinadas, organizadas e
disciplinadas pelos Estados. Nesse embate, os desdobramentos das vanguardas
ocorreram com forte recrudescimento das lutas ideológicas: fascismo, comunismo,
liberalismo, socialismo e anarquismo.
VANGUARDA ARGENTINA
A
vanguarda argentina se diferencia da vanguarda europeia no sentido de que esta
procura romper com os paradigmas através de uma radicalidade estética, moral e
social, ao passo de que a argentina buscou atuar enfaticamente no sistema
literário e no espaço sócio cultural no qual rompe paradigmas. Ou seja, a
revolução estética afeta não apenas a produção literária, mas também as
expectativas dos leitores (LAGO, 2014;158).
Nas primeiras décadas do século XX,
ocorreu na Argentina uma explosão demográfica urbana, sentida principalmente em
Buenos Aires. Segundo Sarlo (2007), em 1914, 52,7% da população da Argentina se
concentrava no meio urbano e Buenos Aires contava com mais de dois milhões de
habitantes. Nesse contexto, as revistas passaram a ser um instrumento
privilegiado de informação e literatura, portanto o melhor meio de comunicação
dos autores com o público leitor, além de quebrar, em parte, com o
tradicionalismo do livro. Dessa forma, muitos escritores que estavam em busca
do novo, se dedicaram a produzir material para essas revistas. É o caso de
Jorge Luiz Borges, de Macedonio Frenandez e de muitos outros. Este subgênero
periódico se consagrou nas suas formas básicas de miscelâneas e curiosidades. Nas
palavras de Sarlo:
...,
la miscelánea es la modalidade según la cual se organiza la copresencia, en un
mismo número, de una diversidad vastísima de curiosidades nacionales y
extranjeras, [... ] La micelánea aparece como “forma” de las curiosidades, pero
es tambien por definición, una forma de lo relativamente breve, de lo que puede
ser leído de una centada, como la entrega del folletín, el poema e el cuento.
Lectores de tramos breves son los consumidores de este formato, que exige
impacto, familiaridad lingüística y temática (o, por lo menos, una de las
familiaridades) y resoluciones claras de los nudos argumentales, así como de
las problemáticas ideológica, psicológica o moral que pongan en escena (SARLO,
2007; 65-67).
Na questão literária, principalmente
no gênero de romance, persistia a tendência do Realismo a qual a vanguarda
argentina procurou superar durante a primeira metade do século XX, perseguindo
um novo modelo, no entanto, ainda persistindo seus padrões na segunda metade
deste século (MINEIRO, 2013).
A
Argentina teria entrado oficialmente no universo vanguardista entre 1921 e
1922, com a edição da revista Prisma.
Borges propunha aos intelectuais argentinos a transmutação da realidade
palpável do mundo em realidade interior e emocional (LAGO. 2014)
MUSEU DO ROMANCE DA ETERNA
Considerando que Macedonio Fernandez
começou a escrever este romance em 1904, postergou, refez, costurou, cerziu
cada página por toda a sua vida, morrendo em 1952, sem tê-lo concluído de fato,
críamos poder dizer que este foi o romance de sua vida! No entanto, não é
verdade! Não é verdade, primeiramente pelo fato de ter sido publicado postumamente,
em 1967. Na verdade, a edição brasileira que chegou em nossas mãos (a primeira
e única) só foi publicada em 2010! E chegou-nos às mãos por um valor muito elevado!
Caro por ter sido publicada em quantidade, cremos, pequena e ter se esgotado
rapidamente! Parece ser artigo de luxo! Uma descortesia com o leitor, nas
próprias palavras de Macedônio:
Não
há nada pior que as coisas feitas com pressa, a não ser a fácil perfeição da
solenidade. Este será um livro feito eminentemente assim, da máxima descortesia
que se pode incorrer com o leitor, salvo outra descortesia maior ainda, e tão
comum: a do livro vazio e perfeito (FERNANDEZ, 2010, prólogo 5, § 1ᵒ).
Ele deixa claro que não tinha a
menor intenção de disponibilizar sua obra facilmente. Pelo contrário, o leitor
deveria se esforçar para lê-la. Participar ativamente no exercício de não
acessá-la!
Além
disso eu havia projetado que esse romance fosse publicado depois de vinte e
dois anos em que se sabe que o petróleo terrestre terá se esgotado totalmente,
porque uma advinha me garantiu que estava escrito na providência do mundo que
que ao mesmo tempo se esgotaria a provisão de bocejos de leitor com que se
conta no presente (FERNANDEZ, 2010, prólogo 6, § 2ᵒ.).
Só
por isso já seria a obra de sua morte! Mas isso também não é verdade!
Se por um lado, Macedonio dedicou um
prólogo a sua personagem (Prólogo à Eterna – prólogo 4), de alguma forma ele
procurou incorporar características de seus personagens, que aliás não assumem
características humanas intrínsecas!
E
mais, tenho certeza que ninguém vivo entrou na narrativa, pois personagens com
fisiologia, além de muito perturbados por cansaço e indisposição – por isso não
se vê protagonistas adoecerem e se afastarem para a cura, mas somente
representam adoecerem como parte de seu trabalho e continuarem figuração ativa
de doentes e moribundos - , são de estética realista, e a nossa estética é a
inventiva (FERNANDEZ, 2010, prólogo 7, § 2ᵒ).
De
fato, seus personagens têm características de seres não-vivos, inclusive o
próprio autor que no romance se chama Presidente do Romance. Por estas
características não podiam ter nomes de vivos, nem de mortos, portanto
chamam-se: Eterna, Quiçagênio, Doce-Pessoa, Deumamor, Simples, Viajante, o
Homem que fingia viver, Metafísico e Amada de Deumamor. Sim, tem o Frederico, o
Menino da Longa Vara, mas esse ficou de fora do romance.
Portanto,
parece mais adequado dizer que esta obra seria a obra de sua não-vida e sua
não-morte! Ou, obra, de alguma forma, eterna! O que é estranho, sendo a
primeira do gênero, o gênero de “Romance Bom”!
Como
dissemos, a gestação do romance se deu por um longo período, no qual compreende
toda a vanguarda argentina, mesmo sendo publicado posteriormente. Segundo Abrêu
(2014) é considerado pela crítica como um modelo da ficção vanguardista
argentina, a qual surgiu em contraposição à estética realista ainda vigente na
virada do século XIX para o século XX.
Conforme
Mineiro (2013) o Museu apresenta-se
como um romance sobre o romance, problematizando a sistematização do gênero,
recusando a postura do realismo consagrada no final do século anterior e se
integrando no contexto de importantes formulações teóricas da primeira metade
do século XX, sendo contemporâneo a teóricos sobre romance, como Bakunin, Lukács
e Auerbach. No entanto, por suas características também se aproxima da
linguagem da segunda metade do século XX.
A
variedade de temas abordados faz com que o romance se ligue ao momento de transformação
do pensamento na Argentina:
...,
o Museo estabelece sua polifonia ao comportar discursos de diferentes áreas
temáticas e ao se abrir às intervenções de personagens e de leitorespersonagens
que questionam ou validam seus princípios estéticos. (...) aparecem reflexões a
respeito de metafísica, jogos com conceitos da matemática e da física e
considerações sobre política e economia que se entrelaçam como um coro de
discursos interdisciplinares (MINEIRO, 2013; 104).
O exercício textual de macedonio afronta
o realismo em sua principal característica, a verossimilhança, sendo um
movimento contrário ao desenvolvimento dessa forma de narrativa (ABRÊU, 2014).
A
tentativa estética presente é uma provocação à escola realista, um programa
completo de desacreditamento da verdade ou realidade do que o romance conta, e
somente a sujeição a verdade da Arte, instrínsica, incondicionada, auto
autenticada. (MACEDONIO, 2010; prólogo 16, § 1ᵒ)
Além
da técnica, há a série de artimanhas de inverossimilhanças e desmentido de
realidade do relato. Isso é doutrinário e oferece sua mais destacada execução
quando aplica enunciativamente, não artisticamente, o fato que nunca ocorreu mas
que foi deliberado com plenitude em uma consciência vivente, a do pai de
Doce-Pessoa, e que constitui o fato definidor do destino de Doce-Pessoa.
(MACEDONIO, 2010; prólogo 16, § 5ᵒ)
Somente
a arte realista que não é belarte, a arte de Anna Kerênina, Madame Bovary,
Quixote, Mignon, carece da “personagem”, quer dizer, estes não sonham ser,
porque creem ser cópias. (MACEDONIO, 2010; prólogo 17, § 3ᵒ)
Outras importantes características
do Museu que, embora menos sutil,
impulsionam em direção a uma nova literatura são as características crioulla e
nacionalista da obra. Por diversas vezes Macedonio conta a beleza e a
originalidade de sua cidade natal, Buenos Aires:
Nas formas tão
sensuais e inocentes de Doce-Pessoa se olhava o resplendor de Buenos Aires,
suprema cidade desgarrada pelas sombras de campos sem limites, vivendo às
escuras de seu destino, como o transatlântico, iluminado, na vasta escuridão do
mar em cujo seio adentra; em ambos se vive sem noção de rumo, (...) há para
todos a oportunidade do “lançamento” e das duas saídas do Quixote para a
Paixão. Buenos Aires, a Paixão, Doce-Pessoa... (FERNANDEZ, 2010; 134-135)
Antecipando também o que seria a
segunda fase das vanguardas, Macedonio Fernandez procura inserir elementos de
crítica ao capitalismo e ao liberalismo desenfreado que destrói a estrutura
econômica nacional. No prólogo 14, ele menciona um personagem, o qual não vai
entrar no romance, o menino de longa vara. Isto porque não se faria de rogado
em perturbar tudo e, de vez em quando, dar um golpe com a vara. Assim, ele diz
que é o único romance onde não se deixa entrar o menino de longa vara, portanto,
o é o romance do menino deixado longe. Macedonio só volta a falar do menino,
agora dando o nome, Frederico, no prólogo 29.
O
menino Frederico não deixou de tentar a luta econômica. Abriu com todos os
amigos e amigas uma Fábrica de Barulhos. Obtinham metais, zinco, latão ou
vidros tratados a distância com agentes minerais pelos melhores derrubadores de
entulho entre seus operários. O transporte fácil e a grande saída de
mercadorias assegurava a prosperidade. A catástrofe financeira de 1921, as
oscilações de Stinnes, a concorrência colossal da Standard Oil com a
Dutchshell, os desaforados marcos papeis... o certo é que apesar da grande
saída, não havia um barulho no local imediatamente após a manufaturado; a
empresa de Frederico não pode resisitir [...] se evitou uma apresentação de
quebra obrigatória seja pela perturbação de Stinner, a instabilidade dos
câmbios, os marcos ilimitados, a obscuridade dos catorze pontos de
Wilson...(FERNANDEZ, prólogo 29, § 6)
Talvez
o menino Frederico, o que foi impedido de entrar no romance, seja a indústria
nacional argentina, talvez seja a mexicana ou a própria revolução que está mas
não está. De qualquer maneira, Macedonio deixa claro sua concepção quanto a
falência do modelo liberal apontando a situação de monopólio, na guerra do
petróleo, das grandes multinacional (americana vesus inglesa), a falência econômica
da Alemanha no final da guerra, além de ironizar o destino dos “quatorze pontos”
do presidete americano, Woodrow Wilson, para a paz em 1918, os quais eram
condições para a rendição alemã, mas apenas três se salvaram no Tratado de
Versalhes (BURNS, 1983; 863).
CONCLUSÃO
Macedonio
Fernandes, embora tenha sido consagrado pelo movimento vanguardista argentino
como patrono desse movimento, pode ser considerado um autor de transição que
deu os primeiros passos, orientações e linhas mestras principalmente no que
tange ao gênero literário romance na Argentina. Sua mais famosa obra, Museu do Romance da Eterna, em especial
nos seus inúmeros prólogos, que adiam exaustivamente o início do romance, pode
e deve ser considerado como um filme ou
itinerário, embora descontínuo, do desenvolvimento dessas ideias vanguardista
durante toda a primeira metade do século XX, principalmente no que diz respeito
a estética e do uso da linguagem, além de introduzir importantes críticas
políticas, antecipando a segunda fase vanguardista. Da mesma forma o uso de
personagens não viventes, inverossímeis, além de um autor, presidente do
romance, que participa da história, põem a baixo o realismo da fase anterior.
Suas
múltiplas influências, alegada por outros autores, ou por ele mesmo, demonstram
o grau de penetração de suas ideias, não só no círculo literário de escritores,
mas também no público leitor que é capaz de refinar ou revolucionar seus gostos
e opções. Se pudemos verificar características como inverossimilhança, nova
estrutura estética, nacionalismo e crioulismo no Museu, além de verificar vivenciar a nova estruturação teórica que
ganhou força para a orientação literária na Argentina Vanguardista, não
exageram em dizer que obra e autor se revestem de importância histórica ímpar
para a compreensão das transformações intelectuais, artísticas e políticas do período.
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Erica Thereza Farias. Macedonio
Fernández e as tramas da (des)continuidade. Dissertação de mestrado para
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GARCÍA,
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FERNANDEZ,
Macedonio. Museu do Romance da Eterna.
Tradução de Gênese Andrade. São Paulo: Cosac Naify, 2010.
MINEIRO,
Imara Benfica. Excêntricos e modernos: o
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Acessado em: 11 dez. 2016.
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Luis Alberto. Macedonio Fernandez.
In: Inti: Revista de Literatura Hispánica, n. 5, v. 1. Venezuela, 1977.
Disponível em:
Acessado em: 07 dez. 2016.
SARLO,
Beatriz. Escritos sobre literatura
argentina. Buenos Aires: Siglo XXI Editores Argentina S. A., 2007.
SCHWARTZ,
Jorge. Vanguardas Latino-Americanas;
polêmicas. Manifestos e textos críticos. São Paulo: EDUSP, 1995.
LAGO, Mayra Coan. A “nova” Argentina (re) vista: breves considerações acerca das
representações modernas portenhas por um paulista. In: Revista Interseções,
v. 16, n. 1, Rio de Janeiro, , jun. 2014, pp. 148-173.
[1]
Ultraísmo - Vanguarda poética surgida em Madrid em 1918, que tinha como
principal objetivo sintetizar todas as tendências da vanguarda mundial com o mesmo
desejo de ruptura e de novidade. WIKIPEDIA. Utraísmo. Disponível em:
Acessado em: 07 dez. 2016.
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