quinta-feira, 25 de março de 2010

LONDINIUM, A LONDRES ROMANA


        As guerras sempre trazem destruições que constituem terríveis recordações. Contudo, algumas vezes, estas destruições também podem ser de grande valia para a exploração histórica. Refiro-me aos momentos em que as devastações causadas em grandes centros urbanos expõem possibilidades arqueológicas, cujo cotidiano jamais permitiria que fossem exploradas.
            Assim ocorreu com a França, cujos quarteirões arrasados em Marselha, Estrasburgo e Amiens, permitiram que os arqueólogos fizessem importantes pesquisas sobre o passado destas cidades. Na Alemanha, a destruição do centro de Colônia revelou grandes descobertas arqueológicas. Seguindo a rota de destruição da Segunda Guerra Mundial, os intensos bombardeios alemães sobre Londres também deixaram grandes quarteirões arrasados no centro da capital, que anos depois revelariam valiosos vestígios de Londinium, a Londres Romana.
            No ano de 1954, menos de uma década após o fim da Segunda Guerra, uma grande empresa de construção iniciou a fundação de um prédio de 14 andares em um quarteirão de Londres que havia sido arrasado pelas bombas alemãs. O local era Bucklersbury House, no centro da capital britânica. Localizava-se entre duas ruas muito famosas, a Queen Victoria street e a Cannon street. Estas duas ruas são cortadas pela Walbrook, uma via que teve seu nome devido ao rio, hoje canalizado, na margem do qual fora estabelecida. Este curso d’água na época da dominação romana desempenhara importante papel na ocupação humana da região e seu curso sempre foi promessa de grandes descobertas do passado londrino. Quando a Queen Victoria street foi aberta em 1869 foi descoberto um grande mosaico romano.
            Voltando-se a construção do novo prédio, era necessária a escavação de profundos alicerces e sendo esta uma área promissora para a arqueologia londrina, o “Roman and Medieval London Excavation Council” direcionou para o canteiro de obras uma equipe de pesquisadores atentos, de forma a não deixar que ocorresse a destruição de algum vestígio da antiga Londres, sem que ao menos se pudesse registrar os fatos.
            Graças ao empenho do chefe da equipe arqueológica, W. F. Grimes, esta recebeu autorização da empreiteira para proceder uma investigação no local, por um pequeno prazo, a fim de checar se poderia ser encontrado algum remanescente arqueológico. Quase no fim do prazo, no dia 18 de setembro daquele ano, emergiu da terra depositada há séculos, uma bela escultura de bronze: era uma cabeça de homem em tamanho natural com um barrete frígio (espécie de gorro), indício do culto à Mitra, deus das montanhas da Frígia, venerado por todo o Império Romano.
            As escavações revelaram uma construção antiga (ruínas) de 18m x 6m, com uma plataforma elevada no interior, na forma de altar; era um templo de Mitra. No seu interior foram encontradas esculturas agrupadas como se tivessem sido estocadas. As mais notáveis eram duas cabeças de mármore de Minerva e Serápis. Além destas foram encontradas uma estátua de mármore representando Mercúrio, um grupo com Dionísio-Baco circundado por um sátiro, um mênade, uma pantera e Sileno montado em um burro; parte de uma escultura de um homem levando uma tocha invertida (Cautopates, acompanhante de Mitra). Revelou-se, assim, mais traços de Londinium, a cidade Romana fundada na província britânica do Império.

LONDINIUM
            No verão de 43aD o Imperador romano Claudius ordenou a invasão da ilha a fim de expandir seus domínio. A primeira construção romana conhecida foi um forte construído na margem norte do rio Tâmisa, ordenada pelo governador Aulus Plautius, com a finalidade de defender a ponte de madeira construída para a travessia do rio. Nesta região estabeleceu-se a primeira vila romana que em curto período de tempo se transformou no principal centro de comércio da ilha. A origem do nome Londinium é incerta, alguns afirma que o nome é proveniente de um proprietário celta chamado londinius; existe também a hipótese de ser proveniente das palavras celta llyn e din que juntas dariam o significado de “cidade ou fortificação no lago”.
            No inverno de 60/61 aD, uma rebelião das tribos Iceni e Trinovantes (liderados por uma rainha de nome Boudicca) destruiu a colônia de Colchester, apenas a 5 milhas de Londinium, pondo o império romano na ilha em risco. Contudo a rebelião terminou com o massacre dos povos nativos.
            Muitas estradas de boa qualidade e fortes foram construídos pelos romanos durante seus três séculos e meio de dominação. Boa parte destas estradas passava por Londinium, além de seu porto ser utilizado para abastecer as legiões, dando grande prosperidade para esta cidade.
            O dinheiro romano circulava fartamente nas ilhas britânicas, sendo cunhado muitas vezes na própria província.
Moeda de Constantino I (Maximianvs Augvstvs), cunhada no ano 297 aD.
                Por volta do ano 200, um forte muro foi construído em volta da cidade o que lhe deu forma definida por muito tempo. Parte desta incrível fortificação podem ser vistas ainda hoje em Londres. Fortificações romanas em meio a característicos prédios londrinos é, no mínimo, uma combinação interessante! A área delimitada pela antiga muralha hoje é o centro financeiro de Londres, “the City”.
                No esplendor do Império Romano, Londinium chegou a abrigar 45.000 habitantes, fora uma grande população flutuante de comerciantes e legiões de soldados que por ali passavam.
O CULTO A MITRA
                É extremamente significativa a descoberta de um templo dedicado a Mitra no centro de Londres, pois este deus é o mais característico e, por assim dizer, mais forte do panteão romano. Extremamente popular entre os militares das diversas legiões espalhadas por todo o Império Romano. Intriga o fato de as imagens encontradas estarem como se estivessem estocadas num canto do templo, algumas em excelente estado de conservação. Uma Hipótese provável é que isto ocorreu no período da cristianização da Bretanha e militares ou civis romanizados tenha guardado estes artefatos para protegê-los da destruição.
                Outros três templos dedicados a Mitra foram encontrados nas Ilhas Britânicas: em Borcovicium (Housesteads), em Brocolitia (Carrawburgh) e Vindobala. No entanto, estes localizam-se ao norte, em zona militar e eram previsíveis pelo fato de estarem localizadas nas áreas em que estiveram as legiões romanas. O templo mitraico de Londres é o único em área civil, ou centro comercial. De qualquer forma nada poderia ser melhor para caracterizar um Londres romana.

5 comentários:

  1. Belo trabalho...vc fez história?

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  2. nossa eu queria conhecer muito londres teve ser um pais muito bonito quem mora la que tem sorte pq os a realeza mora ai em londres

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  3. Parabéns, excelente trabalho, tenhas a certeza que tu estás ainda, como eu estou, a todos os dias, cursar uma faculdade de História, pois ela não se limita a um ponto final, mas a muitas vírgulas e reticências...

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  4. Conhecia um pouco da história até pq nasci em Londres e qdo posso estou lá mas muitos detalhes eu não sabia !! Essa rebelião de Boudiccea pensei q tivesse sido mais tarde e que tivesse realmente afastado os romanos de Londres .Em Bath os romanos ficaram mais uns 400 anos ,não??

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