domingo, 13 de dezembro de 2009

EDGAR ALLAN POE, O GÊNIO DO TERROR. MENTE CRIATIVA OU ASSASSINO CRUEL?


Mais de cem anos após a morte de Edgar Allan Poe, um grupo de pesquisadores levantou a suspeita de que o escritor não era somente uma profícua mente criativa para o terror, mas um homem que escondia segredos dos mais terríveis e que deixava retratar nos seus contos um caráter cruel e assassino que não era só fruto da imaginação, mas o retrato da verdade de seus atos. Nesta linha de pesquisa Allan Poe teria sido o cruel assassino da jovem Mary Rogers de 21 anos. Estrangulada até a morte, a atraente moça teve seu corpo jogado ao rio Hudson (Nova Jersey), onde foi encontrado em julho de 1841. Esta suspeita pode encontrar fundamentos a serem confirmados, contudo antes de nos enveredarmos por este caminho vamos conhecer um pouco da vida e obra de Edgar Allan Poe.
O nome Edgar Allan Poe sempre estará irremediavelmente ligado ao terror, suspense e tramas policiais, seus contos são mundialmente famosos e influenciaram o estilo de muitos outros escritores. Quem nunca ouviu dizer que gato preto é presságio de mau agouro? Bem, esta superstição existe desde a Idade Média, quando estes animais eram bastante ligados a atos de bruxaria. Diversas histórias acabaram por alimentar tais idéias, contudo foi o conto de Poe, O Gato Preto, que deu fama mundial de má sorte aos pobres bichanos.  Embora “O Gato Preto” tenha algo de sobrenatural, de uma forma geral, seu terror está ligado mais a crueldade humana e ao ímpeto assassínio de seus personagens do que forças ocultas. Da mesma forma seguem outros como Berenice, O barril dos amontillados, Os crimes da rua Morgue e muitos outros. Vamos conhecer um pouco mais sobre o autor.
A INFÂNCIA DE EDGAR
                Um breve retrospecto da infância de Edgar Allan Poe revela que seus primeiros anos de vida estão muito longe da concepção de felicidade. Poe nasceu em Boston, Massachusetts, a 19 de janeiro de 1809. Era filho de atores itinerantes, obviamente de baixa renda e sem propriedades. Seu pai, David Poe Jr., morreu, provavelmente, em 1810, deixando a família amparada somente por sua mãe, Elizabeth Hopkins Poe. A desgraça da família Poe continuaria no ano seguinte; em 1811 Elizabeth também morreu, deixando três crianças órfãs. Os órfãos foram separados pela adoção. O pequeno Edgar foi adotado por um comerciante de Richmound, John Allan.
                Os irmãos de Poe tiveram uma sorte menor que ele; o garoto William morreu muito jovem e a irmã Rosalie foi acometida de irreversível insanidade mental.
                Entre 1815 e 1820 a família adotiva morou na Inglaterra, onde Edgar fez sua formação primária. Daquele país traria recordações usadas indubitavelmente na sua obra "William Wilson". Edgar adotou o nome do padrasto como seu nome do meio, Allan.

A JUVENTUDE DE EDGAR
                É muito bom quando nossos heróis são prodigiosos e venturosos e se revelam muito cedo como tal. Este não é o caso do jovem Poe! Em 1826 e 1827 Poe estudou na Universidade da Virginia. Neste período entregou-se à bebida e ao jogo, contraindo grande dívida, a qual seu pai adotivo se recusou a pagar. Sua conduta acarretou na sua exclusão da universidade, bem como a degradação de seu relacionamento com o padrasto, que o deserdou posteriormente. Em 1826 iniciou um noivado com a Srta. Elmira Royster, o qual foi desfeito pelo pais da donzela. Depois da experiência na universidade, Allan Poe ingressou no Exército Americano (U.S. Army) como soldado, utilizando o nome Edgar Allan Perry. Serviu em Sullivan’s Island, South Carolina. Esta experiência lhe trouxe subsídios para escrever “O Escaravelho Dourado” (The Gold Bug) – 1843 e “O Balão Hoax (The Balloon Hoax) – 1844.
                Sua primeira obra, "Tamerlane e outros poemas" (1827), publicada as suas próprias custas foi muito pouco vendida (publicados apenas 50 cópias). Recentemente (04 dez 2009) uma das dez cópias existentes desta primeira edição foi vendida para um colecionador norte-americano por 662.500 dólares.
                Em 1830 Edgar Allan Poe ingressou na Academia Militar de West Point, contudo foi submetido a um conselho militar devido a sua frequente embriaguez e conduta turbulenta sendo, assim, desligado do curso. Provavelmente já era sua intenção deixar a academia. Poe foi viver com a irmã de seu padrasto em Baltimore (Mrs. Maria Clemm) e em 1833, depois de ganhar um pequeno prêmio com uma pequena estória (Mesage Found in a Bottle), passa a dedicar-se mais intensamente à sua vocação de escritor. Em 1835 Thomas White, depois de criar a Southern Literary Messenger, resolve publicar alguns escritos de Poe. O sucesso é grande e Thomas contrata-o como crítico literário.  Ao contrário dos críticos da época, acostumados a fazer elogios e galanteio aos escritores, Poe faz uma crítica mordaz quanto a falta de estilo e erros ortográficos. De certa forma, causou um pânico entre os escritores. Por outro lado, aumentou a tiragem da revista de White. Este foi um período muito profícuo para Edgar Poe lançando muitos contos e estórias de sucesso.

VIDA CONJUGAL DE EDGAR
                Na casa de sua tia, Edgar apaixonou-se por sua prima, Virginia Clemm, e casou-se com ela em 1836. Virginia contava apenas com 13 anos de idade. Os biógrafos de Poe não são unânimes quanto ao relacionamento conjugal do escritor. Alguns dizem que ele só consumou o casamento quando ela completou 16 anos, outros afirmam que nunca consumou, ou mesmo que nunca se preocupou com o fato da menina ser muito nova. Existem os que afirmam que ele alimentava um amor platônico, colocando-a em um patamar inatingível. Fato é que Virginia Clemm foi o grande amor de sua vida.

                No dia 20 de janeiro de 1842, Virginia Clemm tocava piano e cantava para seu marido, quando começou a tossir fortemente e, em seguida, expeliu sangue pela boca. Fora uma hemorragia pulmonar que marcou o início de uma tuberculose, que a faria definhar visivelmente nos anos seguintes, tornando-se uma inválida até sua morte em 1847 (com apenas 25 anos). Poe relata o episódio em uma carta para Frederick William Thomas, escrita em 3 de fevereiro de 1842.

 "My dear little wife has been dangerously ill. About a fortnight since, in singing, she ruptured a blood vessel, and it was only on yesterday that the physicians gave me any hope of her recovery. You might imagine the agony I have suffered, for you know how devotedly I love her."

Com a doença e morte de Virginia, Edgar entrou em profunda depressão e rendeu-se definitivamente à bebida e às drogas. A morte de uma linda jovem foi o tema mais explorado pelo autor e em 1849 Poe dedicou a Virginia Eliza Clemm Poe seu famoso poema “Annabel Lee”. Edgar Allan Poe morreu naquele ano com 40 anos de idade, em 7 de outubro.
O MISTÉRIO DE MARIE ROGET
                Mary Rogers era uma bela jovem morena de 21 anos que trabalhava numa tabacaria na Broadway, Nova Jersey. Era a encarregada de venda de charutos e por demais cortejada por atores, escritores e toda espécie de celebridades. Em julho de 1841 seu corpo foi encontrado no rio Hudson. A jovem fora violentada e estrangulada. Algumas pessoas foram consideradas suspeitas, mas o caso nunca foi resolvido.
                Dezoito meses depois esta história foi imortalizada no conto “O Mistério de Marie Roget”. Poe, alterou um pouco o nome da personagem, transportou os acontecimentos para Paris, mas manteve a sequência dos fatos espantosamente como se imagina que aconteceu.
                Voltando ao caso de Mary, investigou-se que em outubro de 1838, quando ela trabalhava na tabacaria do Sr. Anderson, a jovem desaparecera pela primeira vez, por duas semanas. O mistério foi parar nas páginas dos jornais que, posteriormente, tiveram de publicar a simplória explicação de que “ela estava cansada e fora descansar na casa de alguns amigos no Brooklin”. Ocorre que há registro de que Poe teria estado no dia 3 de outubro de 1838 na tabacaria e havia se detido muito tempo em conversas com a moça. Portanto a uma suspeita de que os dois tivessem vivido estas duas semanas juntos em algum lugar reservado aos olhos dos curiosos. Em 1838, Poe encontrava-se casado, mas provavelmente não havia consumado o casamento. . .
                Três dias antes do corpo de Mary ser retirado do Hudson ela fora vista a passear nos bosques próximo do rio com um “homem, alto, moreno, de cerca de 26 anos”. Considerando o seu costume de usar uma velha casaca (da época de militar) que lhe fazia parecer mais alto do que realmente era, Poe poderia se encaixar perfeitamente na descrição.
                O que mais impressiona aos especialistas e criminologistas é o fato de que as narrativas encontradas no conto “O mistério de Marie Roget” corresponderem perfeitamente a sequência dos fatos apurados pela polícia de Nova Iorque e Nova Jersey, pois a maioria das informações não eram do conhecimento do público, já que faziam parte das investigações, e, da mesma forma, não poderia ser do conhecimento de Poe.
                Por outro lado, iniciar seu conto fazendo alusão à vítima (verdadeira – Mary Rogers) demonstra, de certa forma, que Poe estava confiante de nunca ser confundido com o criminoso verdadeiro. Quanto a este argumento se contrapõe o caráter soberbo do criminoso astuto e inteligente, como é o caso do seu personagem em “O gato preto” que, na segurança de uma investigação finalizada sem que houvesse qualquer prova contra ele, retém os policiais na cena do crime para demonstrar para si seu talento maligno, batendo na parede exatamente onde havia encerrado o corpo da vítima!
                Intriga os leitores o fato de o personagem Dupin (de O mistério de Marie Roget), de inteligência sagaz, desvendar passo a passo o crime, revelando um assassino solitário, o qual está prestes a revelar seu nome quando a intriga é subitamente interrompida de forma inconsistente. Deixando parecer que o editor da revista, e amigo de Poe, simplesmente censurou o final! Será que Poe conhecia o criminoso? Será que ele deixaria pistas contra si mesmo?
                Quanto às investigações reais do crime, alguns homens (admiradores da jovem) foram considerados suspeitos. É o caso de John Anderson que costumava acompanhar a jovem até sua casa após o trabalho, também Alfred Crommelin e David Payne que moravam na pensão da mãe da vítima em Nova Jersey. Contudo Edgar Allan Poe jamais foi interrogado sobre o crime embora tudo indicasse que este sabia tanto quanto a polícia que investigava o caso, ou mais. . .
OS CRIMES DA RUA MORGUE
                Edgar Allen Poe não é só o gênio do terror macabro; de uma forma geral, os críticos consideram-no como o criador do conto policial. Conforme uma tendência popular da época, os contos de foletim faziam com que os heróis das estórias fossem o próprio criminoso ou um policial ex-criminoso. Neste aspecto, Poe realmente tornou o conto policial digno de ser lido pelas mentes mais cultas, propiciando ao leitor desvendar passo a passo um crime envolto em mistérios. Fazia com que o herói fosse um homem simpático de notável inteligência que utilizava o pensamento analítico-dedutivo, acompanhado de probabilidades e cálculos matemáticos, para a solução dos crimes. Esta linha influenciou grandes nomes do romance policial como Sir. Arthur Conan Doyle (autor de Sherlock Holmes) e Agatha Christie.
Considerando-se esta característica do autor, não é muito difícil aceitar que seu intento poderia ser ajudar a decifrar um crime real baseando-se numa história fictícia, pois desta forma, e aplicando-se o raciocínio analítico-dedutivo, seria possível se reconstituir o cenário e dissolver o manto de mistério.
A favor de Poe está o seu conto “Os crimes da rua Morgue” publicados em abril de 1841, portanto antes do assassinato da senhorita Mary Rogers. Neste conto temos como personagem central a figura de Dupim, homem extremamente inteligente e sagaz que, agindo como um detetive, desvenda o brutal assassinato da Sra. L’Espanaye e sua jovem filha.
O exercício mental realizado em “Os crimes da rua Morgue” parecem ter habilitado Poe a partir para voos mais altos, ou seja, desvendar um crime real utilizando-se de uma reconstituição teórica: “O mistério de Marie Roget”. O que parece ser o intento deste grande escritor, visto que o personagem que desenrola a trama é o próprio Dupin.
Embora a obra de Edgar Allan Poe seja muito extensa, não poderia encerrar este artigo sem deixar uma pequena degustação para o leitor, portanto seguem, abaixo, alguns contos que certamente ajudarão a formar uma opinião crítica sobre o autor e sua obra.

Um comentário:

  1. Mas que coisa mais sinistra.
    Parabéns pela conquista.
    Bom filho a casa retorna.
    Forte abraço.

    ResponderExcluir